Professor Carlos André explica principais dúvidas da língua portuguesa e alerta: “Goiânia é a pior capital do Brasil em leitura”
O professor e linguista Carlos André, conhecido por sua atuação na difusão do ensino da língua portuguesa, chama atenção para um dado preocupante: Goiânia figura entre as capitais com pior desempenho em leitura no país. “É uma cidade que cresce muito — a segunda que mais cresce no Brasil —, mas é também uma das piores em termos de leitura. Isso não é um bom sinal”, afirmou o docente em entrevista ao Jornal Opção. Ele defende a criação e o fortalecimento de clubes de leitura como estratégia para mudar esse cenário.
Mas, além da reflexão sobre o hábito de ler, o professor também abordou dúvidas gramaticais que frequentemente geram insegurança entre falantes e jornalistas — como o uso correto do infinitivo, da crase e da concordância em expressões de porcentagem.
Infinitivo: “Ensinar crianças a se proteger” ou “ensinarem”?
Segundo Carlos André, ambas as formas são possíveis, mas o uso adequado depende da ênfase que se quer dar na frase.
Deixar o verbo no infinitivo impessoal (‘ensinar crianças a se proteger’) dá ênfase à ação. Já flexionar o verbo (‘ensinarem’) dá ênfase ao sujeito, ou seja, às crianças”, explica.
Em contextos como o exemplo citado — “Goiás inaugura mini cidade para ensinar crianças a se proteger no trânsito” —, o professor considera mais recomendável manter o verbo no singular, privilegiando a ação.
“O mais comum e mais natural é deixar no infinitivo impessoal. Só se flexiona quando se quer destacar o sujeito — como em frases que tratem de grupos específicos de crianças, por exemplo”, acrescenta.
Crase: “Uma das coisas mais lindas da língua portuguesa”
Tema que costuma causar insegurança até entre profissionais da comunicação, a crase foi descrita pelo professor como “um dos fenômenos mais belos da língua portuguesa”.
Crase é a fusão de duas vogais idênticas: a preposição a e o artigo feminino a. Só posso usar crase quando a palavra seguinte admite artigo feminino”, explica.
Ele dá exemplos práticos:
- Correto: “Refiro-me à professora.” (porque “professora” admite artigo)
- Incorreto: “A partir” ou “A oito quilômetros” com acento de crase.
“Muita gente coloca o acento onde não existe crase porque repete o som do ‘a’. É falta de conceito. Colocam crase antes de palavras masculinas ou verbos, o que não faz o menor sentido”, observa.
Porcentagem: “Um por cento dos goianos vota” ou “votam”?
A dúvida sobre o verbo em frases que envolvem porcentagem também divide opiniões — e Carlos André esclarece que ambas as formas podem estar corretas, desde que o autor compreenda o efeito de sentido.
“Se eu digo um por cento dos goianos vota, estou concordando com o número e destacando a quantidade — pequena, no caso. Se eu digo um por cento dos goianos votam, estou concordando com goianos, e o foco passa a ser o grupo de pessoas”, detalha.
Em outras palavras, a escolha deve considerar qual elemento se quer enfatizar: o número (vota) ou o conjunto (votam).
Leitura e cidadania linguística
Além das questões gramaticais, o professor reforçou a importância da formação leitora para o desenvolvimento cultural e crítico da população. Ele defende que a língua não deve ser vista apenas como um conjunto de regras, mas como instrumento de expressão, cidadania e inclusão.
Precisamos fazer de Goiânia uma cidade leitora. A gramática é importante, mas a leitura é o que amplia o pensamento e humaniza a comunicação”, conclui.
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