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Neurocientistas identificam regiões do cérebro que reforçam o vício em álcool

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O consumo excessivo de álcool segue como um dos maiores problemas de saúde pública no mundo. Estima-se que cerca de 3 milhões de pessoas morram todos os anos por causas relacionadas à bebida, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Diante desse cenário alarmante, pesquisadores em diferentes países têm se dedicado a compreender como o cérebro reage ao álcool e à abstinência, em busca de tratamentos mais eficazes para a dependência química.

Entre as descobertas recentes, um estudo conduzido pela Scripps Research, nos Estados Unidos, e publicado na revista Biological Psychiatry, revelou que uma região específica do cérebro o núcleo paraventricular do tálamo (PVT) é fortemente ativada quando o consumo de álcool está associado ao alívio do estresse e dos sintomas da abstinência.

O professor Friedbert Weiss, autor do estudo, explica que “as pessoas não bebem apenas para sentir prazer, mas também para escapar de estados emocionais negativos, como ansiedade e tensão”.

Essa ativação cerebral, segundo o neurologista Thiago Taya, do Hospital Sírio-Libanês, ajuda a explicar o ciclo da dependência. “O álcool dá a falsa impressão de relaxamento, mas o cérebro passa a associar essa sensação à bebida. Com o tempo, o prazer aumenta com o consumo e o sofrimento se intensifica quando ele é interrompido”, afirma o especialista.

Outra frente de pesquisa, desenvolvida pela Universidade Estadual de Washington, também nos Estados Unidos, identificou o cerebelo como uma região fundamental na regulação emocional e no controle do vício. Tradicionalmente conhecido por coordenar os movimentos, o cerebelo agora é apontado como peça-chave no equilíbrio emocional. Em experimentos com animais, cientistas conseguiram reduzir sintomas físicos e psicológicos da abstinência ao manipular a atividade dessa área do cérebro.

“O cerebelo tem metade dos neurônios do cérebro e participa muito mais da nossa vida emocional do que se pensava”, explica o professor David Rossi, autor do estudo. Já o neurologista Maciel Pontes, do Hospital de Base do Distrito Federal, reforça que a adaptação dessa região ao consumo crônico do álcool torna a retirada da substância mais difícil. “Quando o álcool é suspenso, o cérebro entra em estado de hiperatividade, o que intensifica o sofrimento emocional e físico”, destaca.

Novas tecnologias e medicamentos prometem auxiliar no combate à dependência

As pesquisas também têm explorado o uso da tecnologia como aliada no combate ao vício. Cientistas do Mass General Brigham, em Boston, desenvolveram um dispositivo vestível chamado Lief HRVB Smart Patch, um adesivo inteligente que mede os batimentos cardíacos e ajuda o usuário a controlar o estresse e a ansiedade por meio de exercícios respiratórios. Publicado na revista JAMA Psychiatry, o estudo mostrou que o uso do dispositivo reduziu em até 64% o desejo de consumir álcool e outras substâncias entre os participantes.

A psiquiatra Helena Moura, professora da Universidade de Brasília, avalia que o controle emocional é um dos grandes desafios da recuperação. “Os sintomas de estresse e ansiedade persistem por meses após a desintoxicação, e esse tipo de tecnologia pode oferecer suporte contínuo nesse processo”, diz.

Enquanto isso, novas abordagens farmacológicas também ganham força. Pesquisadores da Universidade do Colorado descobriram que o medicamento tolcapona, usado originalmente para tratar o Parkinson, pode ajudar no controle dos impulsos relacionados ao consumo de álcool. O remédio atua no córtex pré-frontal, região do cérebro responsável pela tomada de decisões e pela capacidade de resistir a tentações.

De acordo com o médico neurologista Ábner Prado, do Instituto de Neurologia de Goiânia, “fortalecer o córtex pré-frontal funciona como acionar um freio nos impulsos. Isso ajuda a pessoa a refletir antes de agir e a evitar comportamentos automáticos, como beber sem pensar”.

Além dos impactos cerebrais, novas descobertas também indicam como o álcool afeta o fígado de forma indireta. Pesquisadores da Universidade da Califórnia em San Diego identificaram que o consumo prolongado prejudica a produção da proteína mAChR4, responsável por evitar que bactérias intestinais migrem para o fígado, o que agrava inflamações e lesões hepáticas.

A pesquisa, publicada na revista Nature, sugere que medicamentos já usados em outros tratamentos, como o da esquizofrenia, podem ser reaproveitados para restaurar essa barreira protetora.

Com tantas frentes de investigação, o combate ao alcoolismo avança em múltiplas direções da neurociência à tecnologia. Os resultados ainda são experimentais, mas indicam que entender o cérebro e suas reações pode ser o caminho mais promissor para diminuir recaídas, aliviar sintomas e oferecer novas formas de reabilitação para milhões de pessoas em todo o mundo.

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