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Livro de Alex Solnik mostra a barbárie de torturadores, como Brilhante Ustra

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Falta um livro — um grande livro, um livro grande —, na estante de história do Brasil, que faça um mapeamento, de maneira ampla, sobre os torturadores que operaram durante a ditadura civil-militar.

É natural que a imprensa e pesquisadores se concentrem nas figuras de sempre, como Carlos Alberto Brilhante Ustra, o coronel Tibiriçá; Sérgio Paranhos Fleury, delegado da Polícia Civil; e Benoni de Arruda Albernaz (dizia aos torturados: “Quando venho para a Oban, deixo o coração em casa”), major do Exército. Mas há outros, muitos outros, como um capitão do Exército, baseado em Goiás, que, no dia de seu casamento, foi ao batalhão da instituição (nada porão) e torturou o publicitário Hugo Brockes (o sobrenome e os cabelos ruivos “lembravam” europeus. Comunista, portanto). Uma história da ditadura precisa “inclui-los”.

Se expostos com claritude e abrangência, os torturadores “contarão” a parte mais cruenta da ditadura. Qual o grau de autonomia que tinham para torturar e matar? Apreciavam cumprir as ordens dos chefões? Há histórias de profundo sadismo envolvendo a turma de Brilhante Ustra e Sérgio Fleury.

Na Guerrilha do Araguaia, nos momentos finais, entre 1973 e, sobretudo, 1974, a ordem dos coronéis e generais era para matar. Brasília “não” queria prisioneiros, supostamente “problemáticos”.

Os militares, no Araguaia, antes de matar, “cumprindo” as ordens do governo do general Emilio Garrastazu Médici, torturavam prisioneiros (alguns deles doentes e inofensivos).

Brilhante Ustra, o torturador mais emblemático — o chefe que metia a mão na massa, aparentemente “sem necessidade” —, Sérgio Fleury e Benoni de Arruda Albernaz merecem as críticas que lhe são feitas pela história, pelas organizações de defesa dos direitos humanos.

Benoni de Arruda Albernaz, Sérgio Fleury e Brilhante Ustra eram de uma crueldade ímpar. Estavam lá, em unidades governamentais — que, a rigor, não deveriam mais ser chamadas de porões (a tortura não era assim tão escondida) —, para torturar e matar. Mas adicionaram, com certeza, a dose de sadismo de cada um, para piorar a situação dos presos.

A partir de determinado momento, com os interrogandos praticamente inertes e, sobretudo, sem nada para esclarecer — e contribuir para o combate à guerrilha urbana (depois de 1971, praticamente debelada) —, a tortura, até do ponto de vista da lógica, não levava a nada. Os torturadores possivelmente tinham prazer ao destruir os corpos das vítimas. Eram senhores da vida e da morte. Deuses-luciferinos das trevas.

Brilhante Ustra: um dos militares mais brutais da ditadura | Foto: Reprodução

Ao contar a história dos torturadores — militares (oficiais e subalternos), delegados e agentes da Polícia Civil e da Polícia Federal, médicos —, a imprensa e os pesquisadores terão de “incluir” os mandachuvas. Entre eles estavam os generais Médici, Orlando Geisel e Milton (Miltinho) Tavares. E, claro, muitos outros.

A matança na Guerrilha do Araguaia (1972-1974) não deriva da autonomia do Major Curió (Sebastião Rodrigues Moura) e outros oficiais. Ele apreciava matar? É possível. Mas recebeu ordens para não fazer prisioneiros, ou seja, para não levá-los para presídios e não colocá-los à disposição da Justiça.

O livro “O Dia Em Que Conheci Brilhante Ustra” (Geração, 160 páginas), do jornalista ucraniano-brasileiro Alex Solnik, é muito bem-vindo. É uma história de dentro, ou seja, de quem viu pessoas sendo torturadas e sobreviveu.

Em setembro de 1973, confundido com um militante da guerrilha, Alex Solnik (o sobrenome também pode ter influenciado, afinal a Ucrânia era comunista) foi preso e entregue aos sequazes de Brilhante Ustra.

Na prisão, Alex Solnik presenciou o inominável: presos políticos sendo barbaramente torturados pelos homens de ouro da ditadura civil-militar — uma irmandade de criminosos regiamente paga com dinheiro público.

Na cela para a qual foi levado, Alex Solnik conversou com um prisioneiro que era sadicamente torturado quase todos os dias, até se tornar um homem-farrapo, possivelmente. Era um não-homem, um pedaço de carne nas mãos-dentes de cães selvagens, ditos humanos.

Nascido na Ucrânia, Alex Solnik, de 75 anos, chegou ao Brasil em 1958. É autor de vários livros.

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