Washington Post decide que não irá mais manifestar apoio a candidatos à presidência dos EUA
O Washington Post, um dos jornais mais influentes dos Estados Unidos, anunciou que não fará mais endossos presidenciais, incluindo na eleição de 2024. A decisão histórica do jornal, conhecida publicamente na última sexta-feira (25), atraiu tanto críticas quanto elogios e resultou em uma perda de mais de 250 mil assinantes digitais. Em um editorial publicado na segunda-feira (28), Jeff Bezos, proprietário do jornal e fundador da Amazon, defendeu a decisão, justificando que o jornal não tomará partido em disputas eleitorais futuras, preservando sua imparcialidade editorial.
Segundo informações da National Public Radio (NPR), a decisão de Bezos não ocorreu sem oposição dentro do próprio jornal. David Shipley, editor de opinião, e Will Lewis, CEO e publisher do Post, expressaram seu descontentamento em reuniões com Bezos, alertando para os possíveis riscos de uma medida tão drástica a menos de 45 dias da eleição. Fontes internas afirmaram que o anúncio pegou parte da equipe editorial de surpresa e gerou desconforto entre jornalistas experientes como Bob Woodward e Carl Bernstein, que consideraram o fim dos endossos como um retrocesso nas práticas editoriais do jornal.
A tradição de endossos presidenciais, que consiste em manifestar apoio editorial a um candidato, vinha sendo mantida pelo Washington Post por décadas, sendo uma forma de o jornal expressar suas convicções e valores em relação a temas políticos e sociais. O conselho editorial, que normalmente conduz essas decisões, foi apenas informado do novo posicionamento de Bezos, sem a oportunidade de participar ativamente do debate. Ao comunicar a decisão, Shipley argumentou que o jornal passaria a respeitar a capacidade dos leitores de tomarem suas próprias decisões políticas, reforçando a independência do Post.
Reação dos assinantes e impacto financeiro
A mudança gerou forte reação entre os assinantes. Logo após o anúncio, milhares de leitores expressaram sua insatisfação nas redes sociais e na seção de comentários do próprio Washington Post, criticando a decisão de abandonar os endossos. Essa insatisfação impactou diretamente na base de assinantes do jornal: estima-se que, até segunda-feira, 30, o Post já havia perdido cerca de 8% de sua base de 2,5 milhões de assinaturas digitais e impressas, o equivalente a mais de 200 mil assinantes.
Embora o objetivo de Bezos fosse promover uma postura editorial mais neutra, a reação do público mostra que a medida pode ter surtido o efeito oposto, afastando leitores que apreciavam o posicionamento do jornal em temas centrais da política americana.
A decisão do Washington Post ocorre em um contexto mais amplo de veículos de comunicação optando por abandonar os endossos políticos. No mesmo período, o Los Angeles Times também anunciou que não apoiaria nenhum candidato à presidência, seguindo o exemplo do proprietário Patrick Soon-Shiong, que, assim como Bezos, defendeu a neutralidade editorial.
Outros grandes veículos de mídia, como o New York Times, adotaram uma abordagem híbrida, declarando que interromperiam endossos em eleições estaduais, mas que ainda apoiariam candidatos presidenciais. A mudança acompanha um movimento crescente entre jornais regionais e locais. Em 2022, a Alden Global Capital, empresa controladora do Baltimore Sun e de mais de 200 publicações americanas, decretou que suas redações não endossariam mais candidatos, incluindo os que concorrem ao Senado e aos cargos de governador.
Relação tensa entre Bezos e Trump
A decisão de Bezos também é vista sob o prisma de sua relação conturbada com Donald Trump, um dos principais candidatos republicanos à presidência em 2024. Desde seu mandato na Casa Branca, Trump vem criticando publicamente Bezos e a Amazon, acusando-os de práticas monopolistas e alegando que o Post seria um “instrumento de propaganda”. Em 2019, a Amazon processou o governo Trump, alegando que a perda de um contrato com o Pentágono havia sido influenciada pela antipatia de Trump em relação a Bezos.
Embora não se possa atribuir a decisão de Bezos exclusivamente a essa relação, o contexto de animosidade entre ele e o ex-presidente adiciona uma camada de complexidade à escolha de não endossar candidatos. A decisão do Washington Post não apenas afasta o jornal de debates eleitorais, mas também representa um afastamento da postura crítica que vinha adotando em relação a Trump e outras figuras públicas de destaque.
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