Dicionário de José Gobello explica o que é o lunfardo
O lunfardo é a gíria portenha? É mais do que isto? Sim. Porque passou a ser usado por escritores do naipe de Jorge Luis Borges (menos, claro, que outros), Silvina Ocampo e, entre outros, Julio Cortázar.
Sabe a palavra “pibe”? Pois é: trata-se de lunfardo. Significa “niño” (menino), “pivetto” (temos em português pivete). “Aplica-se afetivamente a pessoas de qualquer idade”, diz José Gobello, autor do ótimo “Nuevo Diccionario Lunfardo” (Corregidor, 285 páginas). Pode se falar “piba”, como sinônimo de namorada. “Piberío” é um conjunto de pibes. Quem não se lembra que Maradona era chamado de Pibe, uma espécie de Pibe de ouro.
No prefácio, José Gobello assinala: “Que é o lunfardo? Nada mais difícil que acertar com uma definição capaz de agradar igualmente aos linguistas, aos estudiosos e aos meros falantes”.
“Para uns é linguagem de delinquentes”, nota José Gobello. Há os que sugerem que se palavra chegou, digamos assim, às famílias, numa espécie de linguagem comum, não é mais lunfardo. É o caso de “pibe”.
José Gobello diz que não perde tempo com as discussões acima. “O lunfardo é um repertório de termos trazidos pela imigração, durante a segunda metade do século passado e até o início da Primeira Guerra Mundial, e assumido pelas pessoas pobres de Buenos Aires, em cujo discurso se mesclavam com outros de origem camponesa, e quechuismos e lusismos que já eram usados na fala popular, conformando um léxico que circula agora em todos os níveis sociais das ‘repúblicas do Prata’”.
Os termos do lunfardo às vezes têm mesmo a ver com a marginalidade — como “punga” e “escruche”. Mas muitos não têm a ver com delinquência — como “pelandrún” (folgado, miserável, infeliz), “mufa” (mau humor, falta de ânimo), “farabute” (fanfarrão) e “acamalar”.
De acordo com José Gobello, “não há termo lunfardo que não seja literário e coloquial”.
A editora relata que, com o livro “Lunfardía”, de 1953, José Gobello “transferiu o estudo do lunfardo do território da criminologia para o da linguística”.
O “Novo Diccionario Lunfardo”, publicado pela primeira vez em 1990, é apontado como “um clássico incontornável para compreender o idioma portenho”. José Gobello é a maior autoridade no assunto.
No dicionário, José Gobello recolhe a linguagem oral, aquilo que se fala nas ruas e bares, e o que saiu na literatura popular de Buenos Aires. “Os repertórios de léxicos marginais — o argot, a germanía, el gergo, e mesmo o lunfardo — têm passado por sucessivas etapas de renovação.”
O livro de José Gobello é importante “para entender o que se fala e também o que se lê”.
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