Entenda por que Mabel tem mais condições de gerir Goiânia do que Fred Rodrigues
O leitor já ouviu falar em Nestore Scodro? Talvez não. Mas vale a pena a leitura do livro “O Bom e Velho Jeito de Empreender” (Gente, 256 páginas), da jornalista Raquel Pinho.
Por intermédio da obra, o leitor ficará sabendo sobre a fascinante vida do partigiani Nestore Scodro, que, na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), lutou contra o nazifascismo na Itália. Ele foi um adversário renhido do fascista Benito Mussolini, da Itália, e do nazista Adolf Hitler, da Alemanha. Noutras palavras, quando jovem, contribuiu para que a Europa não se tornasse uma ditadura da extrema-direita.
Nestore Scodro era um virtuose do violino e poderia ter se tornado um músico famoso na Itália. Porém, com o país arrasado, acabou vindo para o Brasil, seguindo o irmão Udélio Scodro. Acabou se tornando empresário. Fundador da empresa que fabrica as bolachas Mabel, é o pai do empresário e político Sandro Antônio Scodro, mais conhecido como Sandro Mabel, de 65 anos.
Honrando a história do pai, Sandro Mabel é um democrata de centro-direita e avesso a qualquer tipo de golpismo. Ele é candidato a prefeito de Goiânia pelo União Brasil e conta com o apoio do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil)
Frederico Gustavo Rodrigues da Cunha, que fará 40 anos no dia 25 de novembro, não apoiou a ditadura civil-militar instalada no país em 1964. Ele nasceu em 1984, quando a ditadura dava os últimos suspiros (morreu em 1985). Então, é óbvio que o candidato do PL a prefeito de Goiânia, Fred Rodrigues, não tem qualquer responsabilidade pelo regime de exceção.
Entretanto, um aliado de Fred Rodrigues, Jair Bolsonaro, lambeu as botas do mais cruel general da ditadura, o linha dura Emilio Garrastazu Médici. Frise-se que o terceiro presidente da ditadura não perseguiu, de maneira implacável, apenas militantes da esquerda. As perseguições atingiram quaisquer democratas — como o ex-deputado Rubens Paiva, brutalmente assassinado — que se opunham às suas ações autoritárias — próximas (não iguais) do totalitarismo de Mussolini e Hitler.
Nunca se ouviu de Fred Rodrigues a mais leve condenação à ditadura civil-militar. Talvez seja um de seus entusiastas, um louva-coturnos.
Falou-se da família de Sandro Mabel, e é preciso frisar que a família (de origem mineira) de Fred Rodrigues é composta de gente de bem. Duas irmãs são jornalistas em Goiânia e são sérias, decentes, responsáveis e competentes. Não há nada que desabone a família.
Sandro Mabel e Fred Rodrigues não são de esquerda. O primeiro pode ser associado à centro-direita, pois é um político moderado; acima de tudo, defensor da democracia como valor universal (e não, como pensa a extrema-direita, como “etapa” para a ditadura). O segundo é de direita, aproximando-se, por vezes, da extrema-direita, como seu amigo íntimo Gustavo Gayer. O deputado federal, atuante e aguerrido, é filho da falecida ex-vereadora e ex-deputada Conceição Gayer (seu avô era filiado ao PSD), prócer do combate à ditadura em Goiás, ao lado do ex-governador Mauro Borges e da amiga Consuelo Nasser (que era filiada ao PC do B). Era filiada ao PDC. Comunista, portanto? Não. Da esquerda socialdemocrata, como Leonel Brizola e Fernando Henrique Cardoso.
Frise-se que o prefeito de uma cidade, da menor à capital, não governa com ideologias na mão. Ideologias são úteis para o debate, mas não para administrar. Quando se assume uma prefeitura, para cuidar de 1,5 milhão de pessoas — e não apenas daquelas que se alinham com a direita ou com a esquerda —, é preciso ser, acima de tudo, responsável e dialogar com as forças políticas, para tornar a administração pública possível.
Portanto, ao votar, os eleitores precisam saber várias coisas. Primeiro, se está votando num gestor (capaz de administrar a cidade) ou se está votando de auê no candidato mais barulhento. Segundo, se eleito, o político terá condições de dialogar, por exemplo, com a Câmara Municipal e com outros gestores (o governador e o presidente da República). Terceiro, sua vitória será positiva para todos, ou apenas para seu grupo político?
São questões simples e, ao mesmo tempo, cruciais. O prefeito que põe a ideologia acima da administração — ou seja, do interesse público — costuma transformar a cidade numa arena de guerra. Sobretudo, tende a fracassar. Mas quem sofre mesmo são os moradores da cidade. Fred Rodrigues sugere que, se eleito, vai reduzir o subsídio que contribui para a redução da tarifa do transporte coletivo. Se ele for eleito, os trabalhadores serão os mais prejudicados.
No momento, Fred Rodrigues e aliados, quiçá na falta de um discurso de gestor, afirmam que Sandro Mabel é o candidato “da” esquerda. Será este o projeto do candidato para Goiânia: ideologizar tanto o processo político quanto a sociedade? Se for, começa mal.
Com tal discurso, o que quer Fred Rodrigues? Tomar de Sandro Mabel parte de seus eleitores de centro-direita e de direita. Porque o candidato do PL — que dizem ser mais sensato e menos radical do que Gustavo Gayer — sabe que, se não conquistar parte dos eleitores que votaram no candidato do União Brasil no primeiro turno, não terá condições de derrotá-lo. Por quê? Porque a esquerda, em nenhuma hipótese, votará no postulante apoiado por Jair Bolsonaro.
Há, claro, uma certa inteligência política ao tentar “aproximar” Sandro Mabel da esquerda. Ao fazer isto, Fred e aliados querem criar uma crise artificial. Quer dizer, levar o candidato do União Brasil a dizer que, não sendo de esquerda, “não” quer o voto dos que votaram na petista Adriana Accorsi. Acontecendo isto, os eleitores de esquerda ficariam “estremecidos” e “irritados” com o postulante do UB e poderiam votar em branco ou não votar no dia 27 de outubro. É uma armadilha, portanto.
Mas o que sugere a sensatez aos eleitores em geral? Que fiquem ao lado do candidato que defende a democracia sempre, e não apenas quando a democracia os favorece. É óbvio que a tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro foi orquestrada pelo bolsonarismo. Noutras palavras, o bolsonarismo usa a democracia contra a própria democracia.
Mabel, Fred e a Câmara Municipal
Como se disse, Fred Rodrigues tem 39 anos. Com a mesma idade, Sandro Mabel já era gestor, já cuidava da empresa que fabrica as bolachas Mabel.
Não se trata de desmerecer Fred Rodrigues, mas o que, exatamente, ele fez em seus 39 anos de vida? Pouco se sabe. Apresenta-se como empresário à imprensa, mas não se sabe quais negócios realmente anda fazendo para sobreviver, quantos trabalhadores emprega, se paga impostos corretamente. Ao TSE, apresenta-se como “solteiro”. À mídia se diz casado e pai de uma criança. Porém, como se trata de uma questão da seara privada, é melhor deixar de lado.
O que se sabe é que, mesmo se expondo como “empresário” — como se apresenta no site do TSE —, Fred Rodrigues não é, ao contrário de Sandro Mabel, um gestor. Trata-se de um jovem, talvez até bem-intencionado, mas não tem experiência alguma como gestor público. Uma coisa é ser meramente político, o que parece ser o caso do candidato do PL, outra coisa é ser gestor e político.
Se for eleito, como Fred Rodrigues lidará com uma Câmara composta de vereadores, em sua larga maioria, hostis? Não se governa uma cidade, sobretudo uma capital, com um Legislativo majoritariamente na oposição.
Com vereadores críticos, a tendência é que uma gestão de Fred Rodrigues ficaria paralisada por quatro anos, o que seria nefasto para a cidade. É possível até que, no primeiro ano, os vereadores se reuniriam para votar o seu impeachment.
Radical, com aliados radicalizados, Fred Rodrigues não tem experiência suficiente para articular com uma Câmara Municipal hostil. Não teria como contorná-la, mas os vereadores tentariam enquadrá-lo. O que seria prejudicial para o prefeito, para a Câmara e, sobretudo, para os moradores da cidade.
Sandro Mabel, se for eleito, contará com o apoio da maioria dos vereadores, pois a direita, a extrema, elegeu apenas quatro vereadores: Major Vitor Hugo, Oséias Varão. Coronel Urzêda e Willian Veloso (que, a rigor, são até moderados — uns menos, outros mais), do PL. Por ser gestor, por ter experiência política, é provável que o candidato do União Brasil teria mais facilidade para lidar com os vereadores.
Depois de Rogério Cruz, que se revelou um desastre administrativo e político — tanto que, se não fosse a candidatura de Professor Pantaleão, do UP, teria ficado em último lugar (obteve apenas 3,14% dos votos válidos, ou seja, 21.616 votos) —, paralisando Goiânia por quatro anos, os eleitores estão sob um dilema, uma escolha de Sofia: avançam, com Sandro Mabel (é gestor, tem trânsito político, não tem arestas), ou recuam, com Fred Rodrigues (não é gestor, não tem trânsito político, tem arestas quiçá incontornáveis)?
Goiânia precisa de um gestor que a reconstrua em termos de infraestrutura e de imagem. Qual é mais talhado para a importante e difícil missão: Fred Rodrigues ou Sandro Mabel? A impressão que se tem é que Fred Rodrigues é uma espécie de Rogério Cruz mais jovem, mais direitista e mais palavroso. Sandro Mabel é, como o governador Ronaldo Caiado, um administrador centrado, competente e que sabe articular com as forças políticas.
Então, se Fred Rodrigues pode ser a nova Cruz dos goianienses, por que apoiá-lo? É a pergunta que todos os eleitores devem fazer no dia 27 de outubro.
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