Herdeiros de Cid Moreira, Rei Lear dos trópicos, disputam herança de 60 milhões de reais

Sabe o “Rei Lear”, de William Shakespeare, o inventor da literatura moderna e, de acordo com o crítico Harold Bloom, do homem moderno?

Ao doar os bens em vida às filhas, perdendo tudo, Lear havia enlouquecido? Talvez. Ao menos ganhou a lealdade de uma delas.

Cid Moreira, a Voz do “Jornal Nacional” durante anos — tanto que ficou com voz de locutor e radialista, por assim dizer —, era uma espécie de Rei Lear? Talvez sim Talvez não.

Casado com uma mulher 36 anos mais jovem — a imprensa faz questão de ressaltar isto, como se o amor fosse “inimigo” da idade —, Cid Moreira parecia amá-la. Fátima Sampaio cuidava bem do jornalista? Parece que sim, a se confiar nas próprias palavras do Lear tropical.

Com a morte de Cid “Lear” Moreira, aos 97 anos — uma vida longa e plena —, os herdeiros, filhos e mulher, deixaram a guerra fria de lado e retomaram a guerra quente, como se fossem Israel versus Irã.

Cid Moreira deixou dois filhos, o comerciante Rodrigo Radenzev Simões Moreira, de 54 anos, e o cabelereiro Roger Felipe Naumtchyk (adotado), de 47 anos. Sobrenomes russo e polonês? É provável.

Radenzev e Naumtchyk, como se fossem Ucrânia e Rússia — só que, no caso, aliados —, estão em guerra com Fátima Sampaio. Os dois querem a abertura do inventário e constituíram o advogado Ângelo Carbone para representá-los.

Os filhos avaliam a fortuna de Cid Moreira em 60 milhões de reais. De acordo com eles, 40 milhões de reais têm a ver com imóveis e 20 milhões envolvem “direitos autorais de trabalhos para a Globo” (o trecho entre aspas retirei de uma reportagem da coluna de Mônica Bergamo, da “Folha de S. Paulo”).

Radenzev e Naumtchyk sustentam que Fátima Sampaio teria vendido 11 dos 18 imóveis de Cid Moreira e transferido 40 milhões de reais para o exterior. À “Folha de S. Paulo”, a viúva, mesmo considerando que as acusações dos filhos de Cid Moreira seriam “caluniosas”, não quis discutir o processo do inventário.

A rigor, o que acontecerá? Primeiro, é preciso verificar se Cid Moreira deixou testamento (o mais provável é que tenha deixado, até porque andava em litígio com os filhos; um deles, Roger, chegou a dizer que foi abusado, sexualmente, pelo jornalista, que negava). Segundo, quando o realismo imperar, acordado por advogados experimentados, é provável que os “russos” e a “brasileira” cheguem a um acordo.

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