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2024

Por que o brasileiro sente que a economia não vai bem, apesar de melhora dos indicadores?

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O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro tem surpreendido positivamente nos últimos trimestres. Segundo o professor de economia da PUC-GO, Jeferson de Castro Vieira, a expectativa era de um crescimento de 0,9% no segundo trimestre de 2024, mas o aumento foi de 1,4%, apontando para um crescimento anualizado de 3,3%. Ele lembra que o país já vem em uma trajetória de expansão, com crescimento de 3% em 2022 e 2,9% em 2023.

Para Vieira, esse avanço é expressivo, pois o PIB reflete a geração de riqueza no país e afeta diretamente setores como comércio, indústria, serviços e o consumo das famílias. “O PIB é interessante porque ele sintetiza tudo isso”, afirma. O especialista destaca ainda que Goiás segue a mesma linha de crescimento, principalmente no setor industrial.

Tanto o governo federal quanto o de Goiás têm implementado políticas econômicas robustas voltadas para o desenvolvimento industrial. Vieira menciona o Plano Safra, o maior da história do Brasil, e a importância das novas linhas de crédito oferecidas pelo BNDES e pelo Fundo Constitucional do Centro-Oeste, que têm beneficiado os setores de comércio, serviços e indústrias locais.

Outro ponto destacado pelo professor é o aumento do salário mínimo acima da inflação. “Isso foi fundamental, principalmente depois da pandemia, para que as pessoas pudessem manter suas atividades econômicas”, afirma. Vieira reforça que, embora o Brasil seja a oitava maior economia do mundo, a concentração de renda ainda é um grande desafio. O salário mínimo é uma ferramenta importante para melhorar essa distribuição.

Aumento do PIB

A alta de 4,1% na produção industrial em junho, divulgada pelo IBGE, evidenciou uma recuperação significativa na atividade econômica do Rio Grande do Sul, após os impactos das enchentes no mês anterior. Esse desempenho reflete o bom momento da indústria, em especial na manufatura de bens de consumo, impulsionada pelos ganhos de emprego e renda.

Economistas revisaram suas projeções para o PIB do segundo trimestre, e o novo relatório da XP aponta para uma recuperação em todas as categorias industriais, com a produção de bens de consumo crescendo quase 7% em comparação mensal e 2,3% no trimestre. A produção de bens de capital também se manteve em alta, o que é um sinal positivo para a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), um importante indicador de investimentos.

Devido a esse desempenho surpreendente, o XP Tracker elevou a previsão de crescimento do PIB no segundo trimestre de 0,6% para 0,7%. Já a expectativa para a evolução do PIB em 2024, que atualmente está em 2,2%, ganhou um viés de alta.

Economia brasileira e goiana

Professor de economia da PUC-GO, Jeferson de Castro Vieira | Foto: Guilherme Alves / Jornal Opção

A indústria, que já mostra um desempenho forte em nível nacional, também cresce significativamente em Goiás. O professor explica que o estado se destaca, principalmente, na indústria alimentícia, que responde por cerca de 50% da produção nacional. “Isso mostra como estamos casados com a produção nacional”, enfatiza. Além disso, ele menciona a recuperação das indústrias automobilística, farmacêutica e de bebidas, setores que têm contribuído para o crescimento econômico local.

Outro ponto relevante abordado por Vieira é a retomada do setor de serviços, com destaque para a construção civil, que tem grande impacto na geração de empregos e renda, tanto nacionalmente quanto em Goiás. “Esse setor rebate em outros segmentos, como as atividades imobiliárias”, explica. O economista também ressalta a importância do setor de eventos, que, após a pandemia, voltou a movimentar a economia de áreas como bares, restaurantes e hotéis.

Por fim, o economista ressalta que, apesar da recuperação econômica, os brasileiros ainda sentem o impacto dos preços elevados. Mesmo com a queda da inflação de 10,5% para 4,5%, o custo de vida permanece alto. “O povo sente esse crescimento a longo prazo, daqui 3 ou 4 anos”, finaliza Vieira, destacando que a continuidade do crescimento econômico e dos aumentos salariais será fundamental para melhorar a qualidade de vida da população.

Com a palavra, mais alguns especialistas

Marcelo Baiochi – Presidente da Fecomércio

Marcelo Baiochi, Presidente da Fecomércio | Foto: Reprodução / Redes Sociais

De acordo com Baiochi, o crescimento do PIB se dá, em grande parte, pelo fato do Brasil ser um grande exportador de commodities, como soja, minério de ferro, petróleo, carnes e laticínios. Então, grande parte da nossa economia se movimenta através da exportação desses produtos. Infelizmente, no Brasil, existe uma grande instabilidade, o economista acredita que a insegurança jurídica é um dos maiores fatores para isso. 

“Ao meu ver, a pequena variação no PIB não tem uma motivação objetiva, é muito mais circunstancial. Até porque, se avaliar as últimas previsões, há uma estabilidade muito grande de acréscimos e decréscimos. O PIB aumenta ou diminui na mesma proporção da ação que o impactou, normalmente são ações do governo. Para a população geral, o aumento do PIB não tem efeito nenhum, eu entendo que é um dado muito mais perceptível no mundo empresarial”, disse ele.

Baiochi também explica que quando o salário mínimo aumenta, aaumentatambém o poder de consumo, e portanto, a circulação de dinheiro. E assim todos ganham, o empresário porque vende mais, o governo porque arrecada mais, e a população que participa desse crescimento com o aumento da geração de empregos, por exemplo.

Segundo Baiochi, a Fecomércio defende sempre que o trabalhador tem que ser muito bem remunerado, porque uma boa remuneração no bolso do trabalhador favorece a economia e a circulação de dinheiro. Até porque dinheiro parado e especulação não geram riquezas, mas sim quando esse dinheiro circula, se transforma em consumo, que, por sua vez, gera novos investimentos.

“A economia para o brasileiro é o bolso dele, o que ele recebe e o que ele dá conta de comprar”, afirma o economista. Baiochi acredita que o principal motivo para o sentimento de insatisfaçao dos brasileiros é a taxa SELIC acima de 10%, o que corrói o salário e diminui o poder de compra.

“Por isso, o brasileiro vê nas prateleiras os produtos subindo mais do que o IPCA, consequentemente, isso significa menos carne na mesa, maior dificuldade em pagar um aluguel, escola e plano de saúde”, disse Marcelo Baiochi. 

Rubens Fileti – Presidente da Acieg

Rubens Fileti, Presidente da Acieg | Foto: Reprodução / Redes Sociais

“Como a Acieg está dentro da economia em serviços, indústria e comércio, a gente consegue ter um termômetro da realidade econômica. Projeções às vezes tem distorções do mercado, são muitas variáveis”, afirma o presidente da Acieg quanto ao aumento da expectativa do PIB em 2024.

Quanto maior o PIB, mais a moeda circula, então melhora fatores como alimentação, educação, saúde e lazer. A população está consumindo mais, tem mais oportunidades, tem mais poder aquisitivo. O crescimento da indústria faz crescer também o segmento de serviços, porque o dinheiro está sendo investido em novas contratações.

De acordo com ele, inclusive, o serviço só não está ainda mais aquecido porque não tem mão de obra qualificada dentro do segmento. “Esse já é um problema antigo, mas a indústria é uma grande provocadora de serviços e isso acontece com uma velocidade bem acelerada”. Dessa forma, o resultado é esse crescimento tanto da indústria quanto dos serviços, que estamos testemunhando.

O economista explica que o reajuste do salário mínimo aumenta o consumo da população em geral, mas existe uma diferença entre esse incremento e o que acontece na realidade com a inflação. Porque a inflação pode acompanhar esse reajuste salarial, e nesse caso, não é sentida muita diferença.

“Nós temos um sério problema de insegurança jurídica, na minha opinião, porque causa uma grande frustração nas pessoas e no setor empresarial. Quando uma regra pode mudar a partir de uma decisão monocrática, a alteração frustra a população. Por isso, existe hoje uma grande fuga de investimentos de certos segmentos, por conta dessa insegurança jurídica que permanece pairando”, relata Fileti.

Nos estados brasileiros que têm menos consumo, como Goiás, a questão da reforma tributária é um grande exemplo de interrogação que causa insegurança, na opiniao do economista. Isso porque, segundo ele, essa mudança gera uma frustração válida, o que, por sua vez, gera uma retração de investimentos das pessoas. Consequentemente, o dinheiro tem mais dificuldade para chegar até a população.

“A nossa posição na economia internacional significa que temos uma grande oportunidade para crescer ainda mais”, afirma o economista. Ele justifica seu raciocinio ao explicar que temos muita exportação dos nossos commodities no Brasil, principalmente grãos e proteínas animais, então a disputa é grande globalmente. E somos principalmente um importador de produtos farmacêuticos para a indústria. Ou seja, temos essa oportunidade para beneficiar produtos internos mesmo com uma grande importação.

“A gente tem uma oportunidade grande de virar esse jogo e trazer grandes indústrias que já estão aqui no estado de Goiás, para que assim possamos vender mais produtos acabados. Essas empresas já estão envolvidas na construção de políticas públicas, que já estão sendo construídas com o poder público, para que tenhamos mais empresas, mais renda e assim fazendo a moeda circular dentro do estado”, fala com esperança o economista à frente da Acieg.

Valdivino Oliveira – Presidente da ACG

Valdivino Oliveira, presidente da ACG | Foto: Reprodução / Redes Sociais

O economista Valdivino Oliveira, presidente da ACG afirma que é típico dos países governados pela esquerda que as políticas fiscais e monetárias adotadas pelos governos sejam expansionistas, gerando crescimento econômico e de emprego. Enquanto isso, os países governados pela direita costumam adotar políticas mais conservadoras, então tratam as questões fiscais e monetárias de forma mais retracionistas. Oliveira explica que isso acontece porque miram mais no controle da inflação, enquanto aqueles mais preocupados com o crescimento econômico não se preocupam tanto com o controle inflacionário.

“Evidente que políticas fiscais expansionistas, com o aumento de gastos do governo, tem ampliado o déficit público. O governo está incorrendo em déficits públicos históricos, então é evidente que isso promove um crescimento da economia. E não há perspectiva de que o governo consiga fazer esse controle fiscal. O governo tem criticado a política monetária e o presidente do Banco Central. Grande parte dos economistas entendem que esse governo quer controlar a política monetária da mesma forma que controla a política fiscal, que é com esse viés de expansão do crescimento.

A população não sente os efeitos do crescimento do PIB diretamente, porque o que afeta a população é a inflação, que retira o poder de compra dos salários. Os efeitos positivos para a população vem através do crescimento das oportunidades de emprego, o que pode possibilitar um aumento na média de rendimentos da população. É com isso que a população está mais preocupada em relação ao crescimento da economia”, afirma Oliveira. 

De acordo com Oliveira, a causa do crescimento do PIB está essencialmente na elevação dos gastos públicos, porque cresce a demanda, e portanto, o número de empregos e isso gera mais renda, o que por sua vez gera mais consumo. Então, há uma pressão de demanda muito grande sobre a economia brasileira, o que leva ao crescimento da economia.

Quanto ao aumento do salário mínimo, ele afirma que o mercado não sente tanto, quem mais sente é o setor público. E isso ocorre porque esse aumento afeta as políticas públicas e as aposentadorias, o que pressiona o orçamento público e previdenciário, podendo gerar mais déficit ainda. “Esse aumento de salário, junto com o aumento do consumo e o déficit público provocado também vai gerar mais pressão sobre o crescimento da economia. E essa pressão é positiva, nesse sentido”, diz Oliveira. 

Alem disso, o economista ressalta que na medida em que o PIB cresce, crescem as importações de insumos, especialmente os industriais. O Brasil importa muitos insumos para a produção de automóveis e remédios, por exemplo, porque depende de insumos importados. Quanto maior o PIB, maior a produção desses bens e maior é a importação desses insumos. Da mesma forma, na agricultura, quando o segmento cresce, a importação de fertilizantes também cresce. “É óbvio que com o crescimento do PIB a pressão sobre as importações vai ser maior; enquanto as exportações dependem mais do mercado externo, então não sofrem efeitos com o crescimento do PIB”, relata o presidente da ACG.

Tiago Lopes

O economista explica que é algo muito comum a expectativa do PIB ser surpreendida para cima ou para baixo, porque a dinâmica da atividade econômica é muito flexível. Portanto, é algo difícil de se prever. De acordo com Tiago Lopes, o aumento do PIB é sempre positivo, porque é o primeiro indicador do volume de produção de uma economia.

Então quando o PIB cresce bastante, todo mundo celebra a notícia, tanto os governantes quanto a população, porque existe o potencial de atender melhor às demandas internas. “Ainda assim, é só uma promessa, porque mesmo com um bom PIB, para essa melhoria alcançar a população, ela ainda depende de uma série de outras políticas econômicas, de distribuição, de desenvolvimento, de programas voltados para o social. Porque a nossa sociedade é muito desigual, por isso, só o PIB forte não é suficiente para atender as demandas da população”, afirma Lopes.

Segundo Lopes, o salário mínimo forte é muito positivo porque vai ser utilizado para aquecer ainda mais a economia. Isso porque a faixa da população que ganha menos utiliza imediatamente toda a renda que ela tem. Então, na opinião do economista, uma política de valorização do salário, em geral, é muito benéfica para o conjunto do sistema econômico. “Um PIB positivo é positivo para todo mundo, eu acredito que ainda existem forças políticas de oposição ao governo federal que impedem a divulgação e o conhecimento público da situação atual, que é positiva”, disse ele.

Tiago Lopes destaca que a política faz parte da economia, e a economia não é uma técnica neutra, ou uma ciência alheia aos conflitos da sociedade. Até porque vivemos em uma sociedade muito desigual e dividida, assim, o debate econômico também é muito disputado. “A economia sempre é, também, política, e por isso as discussões econômicas são tão acirradas”, explica o economista.

Sergio Duarte

Segundo o economista Sergio Duarte, infelizmente, no quadro de forte polarização política que o Brasil vive, o segmento do mercado financeiro, cujas previsões costumam ser mais divulgadas, inclusive na imprensa, tem sido muito aquém da realidade. Isso acontece, supostamente, porque a maioria desses economistas tem um viés excessivamente pessimista quanto à gestão do novo governo federal.

“Esse não é um problema só quanto a previsão do PIB, mas também em relação às previsões para crescimento, inflação, desemprego; por isso eles têm sido sistematicamente obrigados a recalcular suas projeções em função da realidade”, relata Duarte. A economia está andando muito melhor do que diziam as previsões, como aconteceu em relação ao PIB desse segundo trimestre. Duarte afirma que esse costume vem desde o início do governo, e cita como exemplo a previsão de 0,9%, que estava muito abaixo da realidade de 1,4%.

“E mesmo agora, que reajustaram a previsão para o crescimento do ano, eles mudaram de 2,43% para 2,46%, é muito pouca a mudança na previsão, só 0,03%. Apenas nos últimos 12 meses, o crescimento do PIB foi de 3,3% e previsão do governo e para 2,8%, alguns economistas chegam a especular a possibilidade de alcançar os 3%”, disse o economista.

Ele tambem explica que o aumento ou a queda do PIB se mostra para a população primeiro como oportunidade de emprego, porque aumenta a oferta e a demanda de empregos formais e informais; e também influencia na renda e no consumo das famílias. Os dados mostram que a renda real dos trabalhadores aumentou ao longo deste ano. “As condições de vida melhoram quando o PIB aumenta, mas isso não é imediato e não é igual para todos, quem já está empregado pode não ter uma percepção tão rápida quanto a pessoa que está em busca de emprego”, explica.

O outro lado do crescimento do PIB é o crescimento do consumo,  que está ligado ao aumento da renda real e do salário mínimo. Ainda mais com o reajuste acima da inflação, como foi definido no fim de 22023. De acordo com Duarte, isso tem um grande efeito sobre a capacidade de consumo da população, não só porque uma grande parcela tem o salário diretamente influenciado pelo salário mínimo, mas também porque o valor do salário mínimo influencia toda a cadeia de salários do Brasil. 

Então, percebemos que a renda real dos assalariados brasileiros melhorou em função da nova política de reajuste do salário mínimo. E esse foi, portanto, outro fator importante para o crescimento do PIB, que é o aumento na capacidade de consumo da população. “Nós também vimos isso anteriormente nos dois governos do presidente Lula, com políticas focadas no salário mínimo”, afirma o economista.

Há muitos anos o Brasil tem um saldo positivo na balança de pagamento, isso significa que ele exporta mais do que importa. Os dados do ano passado e deste ano continuam mostrando um desempenho forte das exportações brasileiras. “Tivemos uma pequena queda no saldo esse ano em função da redução do preço das commodities no mercado internacional, que afeta principalmente o agronegócio, que tem um peso grande nas nossas exportações”, relata. 

Entretanto, ele ressalta que mesmo assim o Brasil seguiu com a balança positiva, até porque o volume das exportações cresceram. “Agora, o dado que vem sendo discutido é sobre uma parcela importante dos investimentos que influenciaram no crescimento do PIB, que foram em importação de máquinas e equipamentos para a indústria”, afirma Duarte.

O economista se aprofunda no tema e explica que por um lado, isso é uma notícia positiva, porque mostra a força da retomada e dos investimentos focados na modernização da indústria. Por outro lado, também reflete um ponto negativo que o Brasil vive desde o fim dos anos 90, que é um certo ível de desindustrialização. 

Segundo Duarte, isso acontece porque o Brasil perdeu parte da sua capacidade de produzir bens mais avançados tecnologicamente, então, para a indústria crescer, ela tem a necessidade de importar equipamentos e insumos que eram anteriormente produzidos internamente. Ele também relata que o Brasil precisa recuperar essa capacidade de produção interna, mas mesmo com essa produção interna maior, sempre vai ser natural que uma parte dos investimentos se faça com a importação de máquinas e equipamentos, desde que eles sejam mais modernos. “Na minha opinião, essa retomada da industrialização é um fator importante para a retomada do país”, finaliza o economista.

Assista um Opção Play sobre o tema:

Professor de economia da PUC-GO, Jeferson de Castro Vieira |  Confira a playlist de entrevistas do Opção Play no YouTube

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