Oposição e situação invertem papéis em Aparecida de Goiânia
A eleição de Maguito Vilela a prefeito de Aparecida de Goiânia, em 2008, foi a última vez em que a Prefeitura da cidade passou por uma ruptura. Ademir de Oliveira Menezes, então no PFL (hoje União Brasil), fazia um governo impopular que foi substituído pelo MDB, que por sua vez nunca foi substituído. No mesmo grupo de Maguito, sucederam Gustavo Mendanha (MDB) e seu vice Vilmar Mariano (UB). Em 2024, com um dos principais candidatos apoiado pelo atual prefeito e outro pelo último prefeito eleito, há confusão sobre qual das alternativas representa a mudança e qual representa a continuidade.
Sendo as eleições plebiscitos pela aprovação ou desaprovação do estado das coisas, é fundamental esclarecer a questão para que a cidade tome uma decisão informada sobre seu voto. Esclarecer quem é situação e quem é renovação — a questão é ainda mais urgente quando levamos em conta o fato de que as pesquisas de intenção de votos indicam proporção pequena de indecisos, significando que a cidade já vem pensando em política há mais tempo do que a vizinha Goiânia. Talvez, a confusão instaurada tenha criado raízes.
Neste novo formato eleitoral, em que as campanhas são curtas e as pré-campanhas são longas, a baixa indecisão ajuda a explicar o favoritismo de Professor Alcides (PL). Afinal, desde 2023 o deputado federal se coloca como possível alternativa a prefeito, enquanto Leandro Vilela (MDB) foi definido apenas em junho. Do lado da base do governo estadual, o que houve foi espera para que Vilamar Mariano provasse a viabilidade de sua candidatura, o que gerou reticência e indecisão aos olhos do eleitor.
Até junho de 2023, Professor Alcides fazia parte do grupo político inaugurado por Maguito Vilela. Entretanto, o deputado federal rompeu com o prefeito Vilmar Mariano, entregando-lhe as três pastas em que tinha indicado secretários e se firmando como candidato de oposição, pelo PL. Mas a questão é complexa e não se encerra aí. O tempo passou, o ano eleitoral se iniciou, e Vilmar Mariano firmou um acordo com o grupo político da situação para provar sua melhora em pesquisas de intenção de votos em troca de ser consagrado o candidato da base. A melhora não veio e Vilmar Mariano foi preterido por Leandro Vilela.
Houve o rompimento e Vilmar Mariano migrou para o grupo de seu primeiro opositor, Professor Alcides. Com ele, migrou também o discurso pela mudança. As pesquisas mostram que os eleitores têm apreço pela continuidade do projeto de Maguito Vilela, pois, antes dele, Aparecida de Goiânia era vista como uma cidade dormitório. O sentimento de vergonha por pertencer à parte pobre da conurbação era tamanho que a prefeitura teve de fazer campanhas para convencer pessoas a registrar seus veículos no município, ostentando o nome da cidade na placa do carro e pagando impostos à Aparecida.
Maguito Vilela valorizou a auto-estima do morador e inaugurou um sentimento de orgulho, hoje associado à alta concentração de renda da cidade nos condomínios de luxo e grandes empresas do Daiag. Segundo a Secretaria da Fazenda, em 2009, quando Maguito Vilela assumiu a prefeitura, Aparecida de Goiânia tinha pouco mais de 6 mil CNPJs ativos. No início da gestão de Gustavo Mendanha, eram 36 mil, e ao final da gestão eram 79 mil.
Porém, o eleitor obviamente não quer preservar os problemas da cidade, que existem. Com rápida expansão e pouco planejamento urbano, a infraestrutura é uma das principais queixas dos aparecidenses: falta de pavimentação asfáltica, abastecimento de água e tratamento de esgoto. Outro problema histórico é a segurança. Na administração do governador Ronaldo Caiado (UB), Aparecida de Goiânia (junto com todas as cidades goianas) saiu do ranking de 50 cidades mais violentas do Brasil; mas Aparecida continua entre as mais violentas na lista estadual.
Ligado aos problemas do presente, mas não às soluções do passado, o prefeito Vilmar Mariano deu de presente à Leandro Vilela o discurso da renovação, que geralmente é exclusividade dos políticos de oposição. Segundo o instituto Opção Pesquisas, a gestão do prefeito é considerada ótima por 6,5% dos entrevistados, boa por 26,2%, regular por 44,7%, ruim por 10,3% e péssima por 9,4%.
Em entrevista ao Jornal Opção, Leandro Vilela mostra ter compreendido a oportunidade. O candidato afirmou: “[Meu projeto] é de continuidade da renovação de Aparecida conduzida por Maguito. Antes, era uma cidade dormitório. A Aparecida pós-Maguito é uma cidade em desenvolvimento, gerando emprego, gerando renda, qualidade de vida. Trago as boas práticas da política e da gestão. Esse é o grande diferencial que foi implantado naquela época. Quero uma inovação continuada. Não é porque é no mesmo grupo que não pode ter renovação. Nós precisamos inovar também.”
Para reforçar a ideia, Leandro Vilela não aparece desacompanhado por Gustavo Mendanha, tanto presencialmente, nos dois “palanques móveis” da campanha, quanto na propaganda de TV e rádio.
Sobre o horário de propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão, vale a pena destacar que a coligação de Professor Alcides (mesmo com tempo maior do que a do adversário) propôs que os programas dos candidatos fossem retransmitidos pela TV Sagres. Oficialmente, a justificativa foi que a Sagres é a única emissora de televisão com sinal gerado a partir de Aparecida. Logicamente, a razão é que a TV Sagres, de caráter educativo, tem audiência menor do que alternativas como a TV Record, que acabou sendo escolhida para retransmitir o horário gratuito do TRE.
Estrategicamente, faz sentido que o candidato em primeiro lugar nas pesquisas queira esvaziar os espaços para debate, com objetivo de manter as coisas como estão. Do ponto de vista político, entretanto, “manter as coisas como estão” é o oposto do que a oposição deveria buscar. Professor Alcides não comparece a debates com candidatos para não sofrer desgastes. Os minutos de estreia de sua propaganda na televisão foram investidos na apresentação do candidato e em uma música calma com letra elogiosa a Aparecida. Quem levantou problemas foi Leandro Vilela, na tentativa de reforçar o vínculo com gestões exitosas.
Por último, vale lembrar: em 2016, quando Gustavo Mendanha foi eleito pela primeira vez, seus concorrentes que estavam em primeiro e segundo lugar — respectivamente Marlúcio Pereira (PSB) e Professor Alcides (então pelo PSDB) — também não queriam a propaganda política na TV. Foram os diretórios municipais do MDB e do DEM (hoje UB) que requereram à Justiça Eleitoral o reconhecimento do direito de retransmissão de propaganda eleitoral televisiva. Este movimento foi um dos responsáveis pela virada e vitória do terceiro lugar, Gustavo Mendanha, que aposta novamente na mesma estratégia.
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