As advogadas que trataram do caso de Flavio Bolsonaro
Juliana Bierrenbach, uma das duas advogadas que trataram do caso de Flavio Bolsonaro com o pai dele, em reunião no Palácio do Planalto, em 25 de agosto de 2020, fala sem parar. Está interessada, numa sequência de entrevistas, em dar sua versão do imbróglio e se precaver diante do que pode vir mais adiante.
E a outra advogada, Luciana Pires, de quem Juliana já se distanciou, por que não diz nada? Juliana se refere a ela nas entrevistas assim mesmo, como “a outra”, negando-se a dizer o nome de Luciana.
Segundo Juliana, foi Luciana quem decidiu usar como estratégia na defesa de Flavio uma conversa com o general Augusto Heleno em Brasília.
Teria sido Luciana quem planejou que os arapongas da Abin poderiam amordaçar os auditores da Receita, que vinham prejudicando Flavio com informações sobre movimentação financeira, no caso das rachadinhas.
Por isso procuraram Heleno e foram parar, para surpresa dela, numa reunião com a presença do presidente da República e do chefe da Abin, Alexandre Ramagem.
Juliana já contou que descobriu uma quadrilha que devassa dados dentro da Receita. Que já foi estuprada enquanto dormia por um advogado amigo numa viagem a Lisboa, em 2022. Que contou o fato à Luciana, porque ambas conheciam o advogado, e que a outra não deu atenção ao seu drama.
E que por isso, por ter se sentido desprezada pela sócia, caiu fora e agora sai contando o que aconteceu. Juliana diz que Luciana é quem estava conduzindo o caso de Flavio. Que ela entrou para dar suporte como advogada criminalista de delitos da área financeira e tributária.
E que toda a parceria ruiu a partir do momento em que retornou de Lisboa, contou o estupro à sócia e se sentiu abandonada. É a sua versão. E a versão de Luciana, a outra?
Ninguém sabe nada, porque Luciana não fala. Se a outra falasse, poderia reforçar ou desmentir a versão de Juliana e, talvez, dar pistas sobre o tal emissário de que fala Ramagem, que iria à reunião de agosto para fazer uma proposta não republicana.
A proposta, pelo que se deduz da fala de Bolsonaro na mesma reunião, seria um toma lá dá cá: Bolsonaro daria uma cadeira no Supremo ao ex-governador do Rio Wilson Witzel (para ele ou para alguém que não se sabe quem) e ele, Witzel, resolveria o caso de Flavio.
É o que temos até agora. Uma advogada que fala muito e outra que não fala nada. Não será do depoimento de sete horas de quarta-feira de Ramagem à PF que ficaremos sabendo mais alguma coisa.
Que Juliana siga em frente e revele mais do que sabe e que Luciana fale o que pode ser falado, pelo menos para tentar se livrar do que a espera.
Juliana já deu a entender que não vai parar e que não teme vinganças. O roteiro é de série espanhola da Netflix, mas estamos apenas no começo da primeira temporada.
*Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre. É autor do livro de crônicas Todos querem ser Mujica (Editora Diadorim).
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