Pablo Marçal e Eduardo Bolsonaro são os campeões de fake news sobre a tragédia do RS, revela estudo da UFRJ
Alice Andersen, Revista Fórum e Bela Megale, Globo
Um estudo realizado pelo laboratório de pesquisa da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ECO – UFRJ), o NetLab, identificou os maiores propagadores de desinformação da tragédia climática que ainda acomete o Rio Grande do Sul. Nos últimos dias, uma forte onda de notícias falsas e negacionistas acerca das doações, das iniciativas do governo federal e da crise climática circularam pelas redes sociais.
Muitas dessas fake news atacavam diretamente o governo federal. O ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Paulo Pimenta (PT-RS), chegou a expressar sua indignação com a situação. “É difícil de entender que em um momento de tamanha fragilidade, que pessoas se escondam em suas telas produzindo conteúdos que sabem ser mentirosos para que tenham algum tipo de ganho político ou econômico”, disse ele, no último domingo (12).
O NetLab traçou uma análise do dia 27 de abril, quando começaram as chuvas intensas e alagamentos no estado, ao dia 10 de maio, e mapeou as principais informações falsas, além dos principais influenciadores, políticos, plataformas e narrativas compartilhadas pelos usuários. Nesse estudo, o grupo de pesquisa observou que o influenciador digital e ex-pré-candidato à presidência em 2022 pelo Partido Republicano da Ordem Social (PROS) Pablo Marçal e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) estavam entre os maiores disseminadores da desinformação.
Informações falsas propagadas pela extrema direita
Marçal, que oferece cursos de “desenvolvimento pessoal” e é proprietário do “La Casa Digital”, que ele define como “o maior Reality Show sobre Marketing Digital”, causou confusão nas redes sociais ao disseminar desinformação sobre as enchentes, acusando a Polícia Rodoviária Federal de impedir que as doações chegassem às vítimas.
Assim como Marçal, o filho 03 do ex-presidente afirmou que o governo federal impediu a entrada de caminhões com doações ao RS. Apesar da refutação dessa notícia, o deputado insistiu que a esquerda e a Globo estavam disseminando notícias falsas ao tentar “ocultar a realidade” do bloqueio de doações. Eduardo também atacou Lula e disse que ele “demorou” para autorizar o envio da Força Nacional ao RS. Além disso, repreendeu o presidente por visitar Santa Maria antes de Porto Alegre. No entanto, no dia da visita (2), Santa Maria era a cidade mais afetada do estado.
Entre as narrativas falsas mais compartilhadas e convincentes, estavam “Lula não está comprometido com as vítimas das enchentes”, “Marina insiste em culpar Bolsonaro por tragédia”, “Starlink é a única internet que está ajudando nos resgates”, “Show da Madonna recebeu recursos que deveriam ir pro RS”, “Governo está impedindo que doações cheguem às vítimas”, “As chuvas são um castigo de Deus”, “A tragédia foi planejada por globalistas” e “Figuras de direita estão ajudando mais que o governo”, apontou o estudo.
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Segundo o documento, as narrativas utilizadas tinham como objetivo declarar que a ação do governo foi “inadequada”, rejeitar a conexão entre os acontecimentos e as alterações climáticas, incorporar o desastre em agendas morais e teorias conspiratórias, exaltar a importância de seus aliados na gestão da crise e tirar proveito do desastre por meio de autopromoção, construindo uma campanha orquestrada para atingir vários públicos. Um dos motivos mais prováveis para o ganho de força desse negacionismo seria a proximidade das eleições municipais.
Os maiores propagadores de desinformação, segundo o NetLab:
⭢ Pablo Marçal, empresário e influenciador digital
⭢ Eduardo Bolsonaro, deputado federal (PL/SP)
⭢ Cleitinho Azevedo, senador (Republicanos/MG)
⭢ Michele Dias Abreu, influenciadora digital cristã
⭢ Leandro Ruschel, empreeendedor e influenciador de direita
⭢ Victor Sorretino, médico influenciador
Meta ganhou com anúncios falsos sobre tragédia no RS
A equipe ainda identificou 381 anúncios enganosos e 51 anúncios contendo desinformação sobre o assunto em questão circulando nas plataformas da Meta. Anúncios que promovem produtos ou informações enganosas com a intenção de gerar lucro, ou seja, anúncios fraudulentos também foram identificados. Todos impulsionados e que incluíam informações sobre campanhas de doações falsas, com links que imitam o popular site vakinha.com.br.
“O maior número de links dos anúncios fraudulentos redirecionam para o site Vakinha. No entanto, alguns desses links são modificados para que se passem pelo site, seja com a URL semelhante e/ou com layouts parecidos. O anúncio da página Ajude o Sul pede doações por meio do link www-vakinha.com/oficial/ajude-o-rs/, que modifica a URL e pode induzir o usuário ao erro. A página foi criada em maio de 2024 e tem a logo da Vakinha em sua foto de perfil”, analisaram pesquisadores em relatório.
PF recupera postagens apagadas de fake news sobre catástrofe no RS
A Polícia Federal já realizou a primeira fase dos trabalhos no inquérito que apura postagens falsas sobre as enchentes no Rio Grande do Sul. O foco inicial dos investigadores foi recuperar mensagens apagadas pelos alvos e garantir a preservação de todas as manifestações que têm conteúdo criminoso.
O inquérito foi instaurado no último dia 8, por determinação do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski. Entre os investigados estão o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), o senador Cleitinho Azevedo (Republicanos-MG) e o influenciador Pablo Marçal, que postaram conteúdos falsos levantados pela PF, segundo investigadores.
Ainda não há previsão para interrogar os investigados, mas integrantes da PF avaliam que, a depender do avanço do inquérito, parte deles pode ter suas contas nas redes sociais bloqueadas pela Justiça.
A Advocacia-Geral da União também vem trabalhando no levantamento de autores de mentiras que atrapalham os trabalhos no Rio Grande do Sul, e não apenas aqueles que disseminam as fake news. O primeiro a ser acionado na Justiça foi o influenciador Pablo Marçal, que divulgou conteúdos falsos sobre a atuação das Forças Armadas na catástrofe.
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