Europa está virando terceiro mundo revolucionário
O suicídio econômico europeu continua diante da insistência imperialista americana de impor sanções à Rússia
Por que os agricultores europeus estão indo com suas máquinas para as ruas reclamar apoio fiscal e financeiro dos governos da velha União Europeia?
Simples, por causa da guerra por procuração dos EUA-OTAN contra Rússia na Ucrânia, cujos reflexos negativos se intensificam cada vez mais no bolso dos consumidores europeus.
O velho continente sifu, ao apoiar sanções econômicas americanas contra os russos, e poderão se danar ainda mais se insistirem nessa linha, como parecem que estão, sob pressão de Tio Sam.
Antes da guerra, a Europa consumia energia barata importada da Rússia; entraram na onda americana de confrontar Putin, que cortou fornecimento em resposta às sanções econômicas; pagam, agora, consequências amargas: desemprego, inflação, recessão etc.
Os europeus, caindo na conversa de Washington, pensaram em destruir a Rússia, desmontando sua moeda para afogá-la na inflação e no déficit comercial e financeiro; nada disso aconteceu: o rublo não se submergiu e a força econômica russa, ancorada em matérias primas indispensáveis ao primeiro mundo, ao lado de oferta excessiva de energia e petróleo, aguentou o tranco e saiu por cima.
Os preços em geral aumentaram na Europa, saindo do controle, e a economia europeia perdeu competitividade para a China e para os Estados Unidos.
Os governos das velhas potências, como Alemanha, França, Bélgica, Inglaterra, Espanha e outros perderam fôlego financeiro para subsidiar a agricultura, incapaz de competir, se não for amparada, tributariamente.
Na Europa sucateada, a palavra de ordem é neoliberalismo: tem que cortar gastos sociais, salários, aposentadorias, conquistas econômicas dos trabalhadores, antigo orgulho da social democracia, da esquerda, obrigada a jogar fora seus discursos por melhor distribuição da renda nacional etc e tal.
Como produzir caro, subsidiando produtores, para vender barato, pois, do contrário, entram em deflação, diante dos concorrentes mais competitivos?
A Franca rompeu com o acordo União Europeia-Mercosul por conta disso.
Os sul-americanos não aceitam redução das suas exportações de produtos agrícolas e aumento das suas importações de bens industrializados europeus, tendo em troca abertura das suas compras governamentais.
Ressalte-se que não foram os sul-americanos, mas sim os europeus que resistiram ao acordo, por verem e sentirem impossibilidades insuperáveis de continuar produzindo caro, pois não podem assumir mais déficits fiscais, para proteger a indústria nacional, frente aos chineses, que são mais competitivos, no cenário da financeirização.
Impulsionadas por bancos públicos, que cobram juros de 2% ao ano aos industriais chineses e praticamente juro zero aos produtores de primários, na China, a economia chinesa não toma mais conhecimento, nem da Europa nem dos Estados Unidos.
A guerra comercial China-Ocidente está aberta e Washington só vê chances de enfrentar o regime comunista-capitalista de Xi Jinping mediante aumento gigantesco de tarifas de importação.
Os americanos vão repetir o que fizeram antes com o Japão, nos anos 1990; seja Trump, seja Biden o próximo presidente americano, Washington partirá para a guerra comercial, elevando tarifas aos píncaros, para derrotar os chineses, aliados dos russos, para se protegerem militarmente, se for preciso.
A guerra comercial global em marcha elevará temperatura revolucionária na velha Europa, intensificando lutas de classes que abalarão capitalista europeu, levando-o ou para a ultra-direita facista ou para o socialismo.
Acabou-se o que era doce - A deterioração nos termos de troca acabou nas relações entre império colonial europeu e americano com a periferia capitalista, depois que a China jogou os preços para baixo sob orientação política do partido comunista e dos bancos públicos que vencem a concorrência com os bancos ocidentais, submetidos à financeirização especulativa.
A saída, do ponto de vista do império, não é outra senão a guerra, como destaca o economista americano, Jeffrey Sachs.
Antes, os sul-americanos acumulavam déficits em contas correntes no balanço de pagamento ao importarem caro e exportarem barato.
Eram obrigados a sofrer crises cambiais importadas.
Agora, não.
Podem, muito bem, importar mais barato da China e continuar vendendo seu produto valorizado, seja para a Europa, seja para China, seja para a Ásia, seja para a Rússia, excluíndo os Estados Unidos, concorrentes agrícolas do Brasil.
Não há mais, como antes, déficit em contas correntes no balanço de pagamento, e a conta comercial - exportações x importações - está amplamente favorável aos países da periferia capitalista, antes massacrada por crises cambiais.
Os países deficitários no balanço de pagamentos eram obrigados a tomar dólares emprestados para cobrir o buraco e a entrarem em ajustes fiscais internos para manter a supremacia imperialista monetarista.
O Brasil, por exemplo, está sendo mais ouvido nas rodadas de negociação externa porque acumula superávit comercial próximo dos 200 bilhões de dólares, graças ao seu poderoso agronegócio.
Esse dinheiro favorável em caixa possibilita comprar bens e serviços industriais mais baratos, quando, antes, eram empurrados goela abaixo.
A valorização cambial se inverteu e quem acumula déficit em contas correntes são os países capitalistas desenvolvidos, no ocidente, incapazes de competir com a China, da qual compram os países do terceiro mundo, gastando menos.
A Europa, nesse cenário, depois da fria em que entrou por cortar relações com a Rússia, sob pressão dos Estados Unidos, não tem mais condições de acumular superávit financeiro, que impunha, na periferia capitalista, desvalorização forçada da moeda nacional.
O suicídio econômico europeu continua diante da insistência imperialista americana de impor sanções à Rússia, arregimentando, para essa tarefa inglória, a Europa, que está no caminho do sucateamento industrial irreversível.
O fato evidente é que a União Europeia, diante da Rússia resistente às sanções comerciais, pois se aliou à China, para se fortalecer contra a investida imperialista americana, continuará se afundando e se transformando em continente não mais do primeiro, mas do terceiro mundo, sob impacto revolucionário, no compasso da pobreza dos trabalhadores.