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Explosão da letalidade põe PM paulista em xeque

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Folha 
Ryan Santos, 4, brincava na rua, em um morro de Santos (SP), quando uma bala de fuzil atingiu seu abdome durante operação policial -seu pai já havia sido morto em uma outra ação da PM, meses antes. Na Vila Mariana, na capital, Marco Aurélio Acosta, 22, derrubou um soldado durante uma abordagem e, após o parceiro do agente reagir, também foi alvejado na barriga.

As mortes da criança, em um bairro popular, e do estudante de medicina desarmado, em área nobre, causaram comoção e devem engrossar as já alarmantes estatísticas da letalidade policial em São Paulo -no caso de Ryan, segundo oficiais, o disparo "provavelmente" partiu de um PM.

Em quase metade do mandato, o governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) registra, mês a mês, escalada vertiginosa de óbitos.

Segundo dados da própria Secretaria da Segurança Pública, o número de pessoas mortas no estado por policiais militares em serviço subiu 82% entre janeiro e setembro deste ano: 474 ante 261 em 2023. Em 2022, ainda sob a gestão João Doria (PSDB, hoje sem partido), foram 180.

A violência estatal não é um fenômeno exclusivo paulista. Ainda que o país tenha registrado redução de 0,9% no ano passado, as mortes por intervenção policial quase triplicaram em uma década (de 2.212, em 2013, para 6.393, em 2023), segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública.

Nota-se, também, que a alta letalidade independe de colorações partidárias. A Bahia, governada pelo PT, e o Rio, pelo PL, detêm o maior número absoluto de mortes do ano passado, com 1.699 e 871, respectivamente.

A média de 17,5 óbitos por dia torna a polícia brasileira uma das mais violentas do mundo. Para comparação, e guardadas abissais diferenças sociais e de motivação nas abordagens, a letalidade da polícia nos EUA -não exatamente um exemplo de procedimento- é pouco mais de 10% da observada aqui, em proporção da população.

No caso paulista, o afrouxamento de mecanismos de controle, como o subaproveitamento das câmeras corporais, e discursos condescendentes do governador e de seu secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, com potencial efeito liberalizante no comportamento da tropa, podem ter contribuído para o morticínio.

A retórica populista e a prática truculenta decerto têm aderência em camadas da população, mas são inócuas no combate efetivo à criminalidade, que carece sobretudo de uma polícia responsável e bem preparada, cujo propósito maior é proteger os cidadãos. Leia mais (11/22/2024 - 22h00)