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Em troca de mensagens, general golpista abusa de palavrões e menciona Jair Bolsonaro 21 vezes

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Bolsonaro e Mario Fernandes (Imagem: Isac Nóbrega | PR)

José Roberto Toledo, em seu blog

“P*rra, cara, eu tava pensando aqui, sugeri o presidente até, p*rra, ele pensar em mudar de novo o MD (Ministério da Defesa), p*rra. Bota de novo o general Braga Netto lá. General Braga Netto tá indignado, p*rra, ele vai ter um apoio mais efetivo. Reestrutura de novo, p*rra. Ah, não, p*rra, aí vão alegar que eu tô mudando isso pra dar um golpe. P*rra, negão!”

São sete “p*rra” em poucos segundos de conversa. É a palavra preferida do general. Mas não é a mais importante em suas falas.

O trecho acima foi transcrito pela Polícia Federal a partir de uma troca de mensagens do general Mario Fernandes com o coronel Marcelo Câmara em 1º de novembro de 2022. O general está preso, e o coronel, a quem Fernandes chama de “Caveira”, está em liberdade provisória. Ambos são “kids pretos”, ostentavam o distintivo das Forças Especiais do Exército em suas fardas.

Além de investigados pela tentativa de golpe de Estado, ambos conviviam dentro do Palácio do Planalto no governo Bolsonaro. Fernandes foi secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência; Câmara foi assessor direto de Bolsonaro. O general usava Caveira para tentar influenciar o presidente. E não só ele. Acionou todos que podiam ajudar em seu lobby pelo golpe.

Nas 18 mensagens de Mario Fernandes transcritas pela Polícia Federal no relatório de sua investigação sobre o golpe, o general fala nada menos do 53 vezes a palavra “p*rra”. Não tem nenhuma palavra que ele repita mais (exceto termos sem significado próprio, como “que”). É o que os especialistas chamam de “marcador discursivo” ou uma “muleta discursiva”.

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Outras muletas como “cara” (39 vezes) e cumprimentos como “força!” (28 vezes) também estão entre as mais frequentes na boca do general. Mas nenhuma delas é tão significativa quanto “presidente”. Mario Fernandes usou a palavra 21 vezes em seus áudios transcritos pela Polícia Federal. Em todas as 21 vezes, o “presidente” se referia a uma pessoa específica: Jair Bolsonaro. É, de longe, o nome mais mencionado por ele.

A razão de presidente/Bolsonaro ser o nome mais citado pelo general é que ele era o principal alvo do lobby que Mario Fernandes fez pelo golpe de Estado. Em praticamente todas as mensagens, esse era o principal assunto. O general tinha pressa e queria apressar Bolsonaro. Quando não conseguia falar diretamente com o presidente, buscava intermediários.

Fez isso com o coronel Marcelo Câmara, o Caveira, com o tenente-coronel Mauro Cid – ajudante de ordens, carregador de celular e pau pra todo obra de Bolsonaro, e até com ministros, como o general Luiz Eduardo Ramos, seu chefe na Presidência.

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Quando não tratava do golpe com o próprio Bolsonaro ou seus auxiliares diretos, o general Mario Fernandes estava mandando e recebendo mensagens para os manifestantes-golpistas que acampavam em frente a quartéis das Forças Armadas. Resolvia problemas, fazia lobby a favor deles para frear ações da polícia, providenciava recursos e ia lá pessoalmente, onde tirava selfies vestindo camiseta amarela com o próprio celular.

O terceiro grupo de interlocutores do general eram outros oficiais do Exército, geralmente colegas de Forças Especiais, ainda mais radicais que ele na defesa de virar a mesa. Mesmo assim, nas 18 mensagens, a palavra “golpe” só aparece uma vez: para dizer que o que estavam preparando não era golpe.

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