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As incoerências de discurso durante a cúpula do Brics

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Cynthia Pastor é editora do Jornal Opção Entorno

Entre outras coisas, o ministro das Relações Exteriores, muito embora alegasse não haver justificativa para atos terroristas do Hamas, disse ser desproporcional a reação de Israel. Mauro Vieira classificou como “genocídio” a guerra na Faixa de Gaza, assim como criticou e afirmou ser decepcionante o papel desempenhado por outros países em relação ao conflito.

Contraditoriamente, Vieira disse em entrevista coletiva em Kazan, antes do encontro do Brics, que “não está em consideração romper relações com Israel”; porém, elevou excessivamente o tom durante discurso no evento da cúpula.

Gerar tensão no que se diz e se contradizer depois, parece algo extremamente frágil politicamente. As relações diplomáticas brasileiras já passaram por uma série de problemas com sérios deslizes durante a “diplomacia de combate” adotada na gestão Bolsonaro e, agora, não parece exequível a subida de “tom” do chanceler.

Até porque o Brasil tem uma série de acordos de cooperação internacional com Israel, entre eles, um que foi aprovado pelo PDL 554/21, e que trata da área de segurança pública com prevenção e combate ao crime organizado, tanto para investigações e uso da tecnologia da informação, quanto para troca de experiências e ações de inteligência. Tal acordo foi assinado em Jerusalém, em 2019, ainda no governo Bolsonaro.

O cenário do conflito é complexo historicamente e os ataques de ambos são inomináveis. O Brasil condenou justamente, a princípio, a investida bélica dos dois lados, ao mesmo tempo em que ratificou seu compromisso com a autodeterminação tanto do Estado de Israel quanto do povo palestino, de modo a buscar um meio de finalizar o conflito.

Essa abordagem não se limita a uma mera retórica. A defesa de uma solução que considere as necessidades e os direitos de israelenses e palestinos é, de fato, o caminho mais prudente e diplomático, em um contexto global marcado por tensões crescentes.

A deputada Jandira Feghali, inclusive, enfatizou de forma sábia em discurso: “Nós não temos nenhum problema com o conteúdo do acordo, até porque ele foi feito muito antes do conflito atual. Como também a OLP, a Autoridade Palestina, nos pediu para votar um PDL que está aqui há muito tempo sobre intercâmbio educacional. Nós não propusemos por que neste momento? Porque achamos que, com duas áreas em conflito, não cabe neste momento ao Parlamento se posicionar. Porque nós não sabemos os desdobramentos disso”.

A relação entre Brasil e Israel tem se mostrado estratégica, com a recente aprovação de acordos que buscam fortalecer a cooperação em diversas áreas, além da segurança pública. O Plenário da Câmara aprovou, inclusive, outros dois acordos. Um deles, o PDL 465/22, que estabelece regras comuns para a aviação civil, e o outro PDL 742/21, que prevê que brasileiros e israelenses poderão ter direitos previdenciários nos dois países.

Por fim, em um cenário internacional cada vez mais polarizado, é essencial que os diálogos e declarações sejam cuidadosas, para que não gerem mal-estar. A cooperação deve ser sempre guiada por um compromisso com os valores democráticos e os direitos humanos, assegurando que os interesses de todos os povos sejam respeitados.

Em campo minado, todo cuidado com o que se diz é necessário. Less is more!

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