ru24.pro
World News
Октябрь
2024
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23
24
25
26
27
28
29
30
31

Duas direitas vêm forte e não estão sob controle do bolsonarismo: a de Marçal e a de Caiado

0

Por que já estão fazendo pesquisas sobre a disputa presidencial de 2026? Por quatro motivos.

Primeiro, o quadro nacional persiste polarizado, e não em função das eleições municipais, e sim da federal. A disputa que ainda não aconteceu, se não decidiu, mexeu com os humores dos políticos e, por vezes, dos eleitores. O presidente Lula da Silva (PT) e, sobretudo, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) circulam pelo país, em 2024, mas tendo em vista a peleja futura.

Segundo, a eleição de 2026 se dará daqui a um ano e nove meses, ou seja, não está muito distante.

Terceiro, os candidatos — mais do que pré-candidatos — estão se colocando, então não há como não pesquisá-los. Já há uma disputa, ainda não eleitoral, claro.

Jair Bolsonaro e Michelle: o ex-presidente divide as direitas| Foto: Isac Nóbrega/PR/Divulgação

Quarto, a desincompatibilização de ocupantes de cargos público, como o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), ocorrerá em 4 de abril de 2026, ou seja, daqui a um ano e cinco meses.

Pesquisadores, cientistas políticos e marqueteiros diziam, há pouco tempo, que o quadro de 2026 seria polarizado entre o candidato do PT, Lula da Silva, e o candidato da direita, um bolsonarista.

Mas o quadro ganhou nuances por dois motivos. Primeiro, surgiu um personagem político novo. Segundo, há políticos da direita não-bolsonarista se colocando para a disputa.

Marçalismo pode reduzir força do bolsonarismo

Um azougue, o goiano Pablo Marçal se firmou na disputa pela Prefeitura de São Paulo. Seu marketing, mais agressivo do que errático, pôs o marketing dos demais candidatos para girar em torno de seu nome. Até a imprensa foi absorvida, em larga medida, pelas táticas do ex-coach.

Mas qual era e é o verdadeiro jogo de Pablo Marçal? Usar a disputa da principal prefeitura do Brasil com o objetivo de se tornar conhecido em todo o país. E conseguiu. Jornais e emissoras de televisão de todos os Estados abriram espaço para falar do empresário que se tornou milionário em pouco tempo.

Claro que Pablo Marçal queria ser eleito prefeito de São Paulo, que, na prática, é quase um Estado dentro do Estado. Porém, ao sair consagrado, apesar de ter ficado em terceiro lugar, se colocou para a disputa nacional. Tanto que institutos de pesquisa já o colocam bem avaliado para a sucessão de 2026.

Pablo Marçal, empresário e ex-coach: assustando o bolsonarismo | Foto: Fernando Leite / Jornal Opção

O marçalismo é uma nova vertente da direita. É filho, porém rebelde, do bolsonarismo. Os adeptos de Jair Bolsonaro desdenham do jovem político, dada sua aliança, ao menos em São Paulo, com um integrante da centro-direita, o prefeito Ricardo Nunes, do MDB, que conta com o apoio do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), este, sim, bolsonarista-raiz, mas moderado como o gestor paulistano.

O marçalismo radicaliza o bolsonarismo e há uma diferença crucial entre Pablo Marçal e Jair Bolsonaro. O primeiro é seu próprio marqueteiro, uma espécie de rei do improviso e de uma ferocidade ímpar. O segundo precisa de uma rede de apoio nas redes sociais, como seus filhos e contratados, na divulgação de seu ideário parvo mas convincente.

De alguma maneira, o marçalismo parece ter assustado os bolsonaristas, notadamente a família Bolsonaro, que não parece ter conseguido interpretá-lo com precisão (talvez ninguém tenha). A nova direita, ou extrema-direita, não é controlada pelo bolsonarismo e, apesar da tentativa de flerte, não precisa dele para se manifestar e articular politicamente. É uma direita independente, solta, digamos assim.

O marçalismo pode não eleger o presidente, mas pode dividir a direita e, em especial, pode enfraquecer o bolsonarismo. Se isto acontecer, será positivo para Lula da Silva, notadamente no primeiro turno.

O nome do bolsonarismo para presidente

A vã ilusão do bolsonarismo-raiz é a história — narrativa, diria — de que Jair Bolsonaro se verá livre dos problemas judiciais (está inelegível) e será candidato a presidente em 2026. Não será. Não há nenhuma possibilidade de que poderá disputar a Presidência da República daqui a um ano e nove meses.

Então, como não será candidato, Jair Bolsonaro terá de apoiar um postulante? Mas quem?

Ratinho Júnior: o governador do Paraná está próximo de Bolsonaro | Foto: Marcelo Andrade

De alguma maneira, Jair Bolsonaro copia Lula da Silva, o de 2018, que ficou como candidato até o momento em que teve de apoiar Fernando Haddad. Era um jogo político. O petista perdeu, mas não obteve uma votação razoável — 44,87% dos votos válidos.

Porém, ao não escolher um candidato, desde já, Jair Bolsonaro pode acabar atropelado pelos fatos, que, como se sabe, são incontroláveis.

O inesperado Pablo Marçal é, de alguma maneira, filho da “indecisão” ou “indefinição” de Jair Bolsonaro. O ex-presidente parece acreditar que está com a história nas mãos mas, como mostrou o resultado da eleição para prefeito do Rio de Janeiro, não está. Lançou o “estranja” Alexandre Ramagem, que perdeu no primeiro turno para Eduardo Paes, do PSD.

A eleição do Rio de Janeiro mandou um recado duro para Jair Bolsonaro. O ex-presidente, ainda que seja um general eleitoral, não tem condições de garantir a eleição de um “poste” ou uma “pedra” para cargos majoritários.

Jair Bolsonaro poderá bancar sua mulher, Michelle Bolsonaro, para presidente? Até pode. Mas consta que ela prefere disputar mandato de senadora pelo Distrito Federal. Porque uma eleição presidencial é muito dura e os porões dos candidatos são expostos com extrema virulência. Ela e o marido certamente não vão se arriscar.

Fala-se que Jair Bolsonaro poderá bancar o filho Flávio Bolsonaro, senador pelo Rio de Janeiro, para presidente. Noutras palavras, com o rebento no jogo, o candidato seria, de alguma maneira, o próprio decano da família.

Entretanto, a escolha de um parente pode gerar um debandada no bolsonarismo. Porque passaria a imagem de que não há espaço para os aliados — só para Jair Bolsonaro e família.

Por isso, o bolsonarismo, especialmente Jair Bolsonaro, opera pela candidatura de Tarcísio de Freitas ou de Ratinho Júnior (nome que, no concerto internacional, certamente será considerado motivo de chacota).

Tarcísio de Freitas, seguindo o Bombril, já disse a mil e um aliados que será candidato à reeleição. Reeleito no Paraná, Ratinho Júnior está muito próximo de Jair Bolsonaro e seus filhos. Porém, em termos nacionais, é um desconhecido. Teria de ser “reconstruído”, inclusive reassumindo o nome de batismo — Carlos Roberto Massa Júnior. Porque, como “Ratinho”, será piada em todo o país. Imagine alguém dizendo: “Chegou o Ratinho de Bolsonaro”, o que resultaria numa explosão de gargalhadas. Pablo Marçal vai deitar e rolar, com pergunta do tipo esculacha-candidato: “O sr. é um Ratinho do Laboratório de Bolsonaro ou um Ratinho natural?”

O fato é que, a um ano e nove meses do pleito, o bolsonarismo tem força, mas não candidato a presidente. Por isso poderá chegar menor em 2026.

Alternativa na direita moderada e não golpista

Ronaldo Caiado: político da direita democrática e civilizada | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

Na turma bolsonarista, o único nome efetivamente consistente, inclusive em moderação, é o de Tarcísio de Freitas. O bolsonarismo o engole em púbico e o regurgita no privado.

Como Tarcísio de Freitas não quer se colocar para a disputa da Presidência, porque em tese teria uma reeleição tranquila, há outros nomes da direita que são consistentes.

O governador de Minas Gerais, Romeu Zema, do Novo, eleito e reeleito, é um político moderado. Há, claro, o problema da falta de cultura (típico no bolsonarismo). Há pouco tempo, num programa de rádio, perguntou se Adélia Prado — a maior poeta brasileira viva — era funcionária da emissora. O país inteiro riu do gestor de Minas. Mas não procede que, perguntado sobre Kafka (e não kafta), teria dito: “Conheço, comi muito”.

Porém, se a incultura não derruba ninguém no país — é muito provável que o tosco Jair Bolsonaro não saiba quem é Machado de Assis, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, Drummond de Andrade, João Cabral, Clarice Lispector, Lygia Fagundes Telles, Yêda Schmaltz e Gabriel Nascente —, os maiores problemas de Romeu Zema não têm a ver com a falta de leitura.

O governador não é conhecido no Brasil, não está deixando uma marca em Minas que possa destacá-lo nacionalmente, há a proverbial incultura e o bolsonarismo não parece confiar nas suas posições supostamente direitistas.

O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, é liberal e sempre se assumiu como de direita. O bolsonarismo o respeita. Recebeu críticas episódicas de bolsonaristas, como Jair Bolsonaro, por causa das eleições municipais. É normal que um governador tenha seus próprios candidatos nas principais cidades do Estado que administra — como Sandro Mabel, em Goiânia, e Leandro Vilela, em Aparecida de Goiânia. O que é não comum é um ex-presidente descolocar-se de seu Estado para interferência em outras unidades da federação, como vem fazendo Jair Bolsonaro, com resultado, aqui e ali, desastrosos (frise-se que perdeu até no Estado em que milita, o Rio).

Romeu Zema não sabe quem é a maior poeta viva de seu Estado | Foto: Reprodução

Ao contrário de Tarcísio de Freitas, dos filhos e da mulher de Jair Bolsonaro, Ronaldo Caiado tem uma história política pessoal, e bastante longeva e sólida.

Em 1989, quando Jair Bolsonaro estava usando cueiros políticos, Ronaldo Caiado já estava disputando a Presidência da República e fazendo a defesa da direita em todo o país. Trata-se de um político que, tendo história, tem autonomia. Não depende de padrinhos para se firmar no concerto nacional.

Governador eleito e reeleito, Ronaldo Caiado está deixando marcas que tem chamado a atenção de todo país. Primeiro, criou uma política de segurança pública firme — com forte uso de um sistema de inteligência — e, ao mesmo tempo, preventivo. A criminalidade em Goiás caiu, o que tem chamado a atenção de governadores de outros Estados e, notadamente, da população brasileira.

O problema da segurança é sempre empurrado para frente. Há governadores que dizem que o crime organizado, sendo um problema nacional, deve ser combatido pelo governo federal. Pelo contrário, Ronaldo Caiado adotou uma política eficaz de combate ao crime organizado, que, se milita em Goiás, o faz em menor escala. O líder goiano provou que segurança é um problema nacional e estadual, ou seja, é do país e dos Estados. Mas pode ser resolvido localmente.

Acrescente-se que Ronaldo Caiado, para além da segurança, preocupou-se com a construção de uma rede de proteção social ampla para os pobres. Ao mesmo que assiste, na emergência — na verdade, é um problema histórico —, as políticas do Estado são inclusivas. Por que a educação de Goiás é a melhor do país, de acordo com o Ideb? Porque o governo, além da educação em si, preocupa-se em amparar os pais e alunos pobres.

O setor de saúde é outro exemplo, com as policlínicas e hospitais mais bem aparelhados (antes praticamente não havia UTIs no interior, agora há). O governo está construindo um hospital de tratamento de câncer para atender crianças, o Cora.

Então, Caiado tem o que mostrar ao país — além de sua decência pessoal (que parece incomodar muito gente, da direita à esquerda) — para a disputa presidencial. Ele está no jogo, com ou sem o apoio de Jair Bolsonaro. Porque tem uma história pessoal irretocável e experiência como gestor. E, ao contrário de outros candidatos, tem cultura. Vale frisar que se especializou em ortopedia na França, a terra de Pasteur, Flaubert e Proust.

Por fim, com três candidatos a presidente, as direitas podem favorecer a reeleição de Lula da Silva? É bem possível. E quem mais divide as direitas é Jair Bolsonaro e seus acólitos.

O post Duas direitas vêm forte e não estão sob controle do bolsonarismo: a de Marçal e a de Caiado apareceu primeiro em Jornal Opção.