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Сентябрь
2024

A esquerda (ou sinistra) através dos tempos, lugares e posições

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Vendo, nos dias de hoje no Brasil a polarização política entre esquerda e direita, e tendo visto a esquerda no poder, com sua incompetência na administração só superada por seu apetite na corrupção, lembrei-me de meus tempos de estudante universitário no Rio de Janeiro, há quase setenta anos. Lembrei-me, e constatei que para os “sinistros”, os esquerdistas, nada muda, nada há de novo sob o sol. Nessas sete décadas, a esquerda nada esqueceu, nada aprendeu – é rigorosamente a mesma. O esquerdista, seja alguém da cúpula do Governo hoje, seja um estudante de Faculdade no século passado, tem o mesmo comportamento. Conto a história, para o leitor que já estará intrigado.

Na década de 1950, em plena Guerra Fria, tal como o eleitorado hoje se divide entre lulistas e bolsonaristas, os estudantes nos dividíamos, nas faculdades, em duas torcidas, uma louvando a União Soviética e seu regime e outra defendendo os Estados Unidos e sua democracia. Os professores, nessa época, eram sérios e responsáveis. Cada qual se dedicava a ensinar sua matéria e nada mais – sequer imaginávamos em quem votavam, nas eleições.

Já nós, os alunos, extravasávamos nossas paixões juvenis. A turma da esquerda, a torcida da URSS, era aquela mais desleixada, que menos estudava, que mais aulas matava e mais se envolvia com a política estudantil. Eram os alunos que raramente se formavam nos cinco anos regulamentares, pois sempre repetiam matérias, quando não o ano todo. Odiavam as provas e sempre preferiam os projetos para desenvolver em casa, que alguns professores passavam. Nesses casos, sempre podiam pedir a ajuda de algum colega mais estudioso e condescendente. Estudantes profissionais! – caçoávamos. Me lembro deles quando contemplo essa plêiade de ministros que hoje ocupam seus ministérios que nada fazem em benefício da sociedade, sem se preocupar com os problemas – dos mais simples aos mais graves – que assolam o país (até escândalo de abuso sexual já aconteceu no ministério lulista). Ministros de hoje são a versão moderna e ampliada daqueles estudantes sem responsabilidade de outrora.

Nas eleições que fazíamos para o diretório acadêmico, a disputa era sempre entre as chapas da direita e da esquerda; às vezes, surgia uma chapa de consenso, mas invariavelmente, no dia da eleição, lá vinha a esquerda com sua chapa pura, e nada de cumprir a palavra empenhada. Alegavam apenas estar cumprindo ordens, e não honravam os compromissos. Lembrei-me daqueles tempos ao ver, nas semanas passadas, o empenho do deputado goiano Ismael Alexandrino em aprovar um projeto de lei que ameniza alguns absurdos que o governo despeja em cima dos atiradores esportivos, apenas por raiva do presidente anterior, que facilitou o acesso às armas. Ismael Alexandrino é um político raro: sério, moderado, tem enorme capacidade de argumentação e transita com facilidade entre todos os partidos, pois é avesso a qualquer tipo de radicalismo. Atirador esportivo que é, o deputado elaborou um projeto de lei com conhecimento de causa, apenas expurgando os decretos lulistas de alguns disparates, e o discutiu, na Câmara, com todos os partidos, à esquerda e à direita. Conseguiu amplo consenso e uma aprovação tranquila. Fez o mesmo trabalho no Senado e contou-me ter ali também conseguido uma concordância, tendo inclusive fechado acordo para votação final, com o líder do governo no Senado, Jacques Wagner. Estava muito otimista, mas não pude deixar de, sem carregar muito nas tintas, alertá-lo para nada comemorar antes da votação final. Lembrava-me de meus colegas de esquerda da faculdade, de setenta anos atrás, que raramente cumpriam a palavra dada. E não é que no Senado ocorre o mesmo? O líder do governo, que havia se comprometido com a aprovação do projeto de lei, provocou sua retirada de pauta no dia da votação, assegurando ao deputado goiano que, para evitar constrangimento de derrota ao governo, ele seria atendido via de um decreto a ser publicado nos próximos dias (mas que, – diga-se – ao contrário de uma lei, pode ser revogado a qualquer momento por um Lula raivoso e descompromissado com a verdade). Quando escrevo, embora tenham se passado duas semanas da data prometida para sua publicação, nada se sabe do decreto, nem da palavra dada e empenhada. Tudo igualzinho ao que era antes, lá naquela Faculdade do Rio de Janeiro dos anos 1950.

História do microempresário Avelino

E, por fim, lembrei-me de um fato que me marcou bem, na minha vida universitária:

Uma figura bem presente, na Escola de Engenharia, era o Avelino. Microempresário, tinha uma pequena livraria para os lados da Tijuca, e conseguira montar um balcão para venda de livros técnicos nas dependências da Escola, que ficava no Largo de São Francisco, no centro do Rio. Avelino era um boa-praça. Vendia a nós, estudantes de poucas posses e de mesadas curtas, os livros de que necessitávamos, a prestações. Cada qual pagava de acordo com as suas possibilidades. Naquela época em que não existiam computadores, Avelino tinha um enorme livro de capa preta, onde anotava as vendas de cada um, e onde lançava os débitos e créditos. Se alguém se apertava, lá ia ao livreiro pedir o adiamento deste ou daquele pagamento, ao que ele sempre atendia. Às vésperas da formatura, ou quando alguém era transferido de escola, o devedor liquidava suas contas com o Avelino, ainda que fazendo das tripas coração. Conquistara a amizade e o respeito de seus fregueses de pouco dinheiro e os atendera em suas dificuldades, sempre ostentando seu sorriso camarada. Mas como nem tudo são flores, Avelino também tomava seus calotes. Poucos, mas doídos. Afinal, vivia de seu pequeno comércio e qualquer prejuízo assumia graves proporções. Mas quem tinha coragem de desaparecer sem pagar o paternal livreiro? Invariavelmente, alguém da turma esquerdista. Para eles, Avelino era um capitalista, explorador. Nos cinco anos em que frequentei a Escola, foi assim. Aliás, um desse grupo, que fazia parte da Comissão de Formatura, “evaporou” parte do dinheiro obtido através de uma sofrida “vaquinha” que fizemos para custear nossa festa de graduação. Lembrei-me disso quando explodiu o escândalo da Lava-Jato, com tantos figurões das esquerdas presos por corrupção. Nas altas esferas de um governo federal, ou no Senado, nos dias de hoje, como nas salas de aula de uma Escola de Engenharia há setenta anos, as esquerdas não mudam. E exibem seus atributos de indolência, de incompetência, de desrespeito à palavra empenhada, e de desonestidade, quando têm sob sua responsabilidade o dinheiro de terceiros. É isso aí.

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