Tereza Alencastro Caiado de Godoy e o legado da mulher vilaboense
No antigo e poético Largo do Chafariz da Cidade de Goiás Tereza Alencastro Caiado de Godoy nasceu no dia 26 de fevereiro de 1875, filha de Luiz Antonio Caiado e Maria Alcântara Alencastro Caiado, de tradicionais famílias goianas, oriundas de muitos laços eternos e unidos por ideais comuns.
Maria Alcântara Alencastro Caiado, moça recatada nos preceitos daquela antiga Vila Boa. Casara-se muito cedo, mas já assumira, antes, o pesado encargo de criar seus irmãos; já que cedo perdera sua mãe e cumpriu, com amor e afeto, o que o coração lhe ditava.
Ela era filha de Joaquina Emília Caiado que, em 1820, casara-se com João Batista de Alencastro. Cuidara com desvelo dos irmãos Felipe Batista de Alencastro, que foi casado com Tereza Flamina Caiado; Antonia Emília Caiado (Tia Totó), que faleceu solteira; Inês de Alencastro; que foi casada com Joaquim Gustavo da Veiga Jardim.
Maria AlcântaraAlencastro Caiado casara-se com seu primo Luiz Antonio Caiado, que era filho de Antonio José Caiado, que fora Presidente do Estado de Goiás, Senador Federal, nascido em 1826, casado com Tereza Maria da Conceição Cachapuz e Chaves, filha de Guilherme José de Barros Cachapuz e Chaves, natural de Portugal e Ana Rita de Souza.
Além dos predicados morais, Maria Alcântara Alencastro Caiado era dotada de acentuada mediunidade. Segundo depoimento de seu neto, Luiz Caiado de Godoy ao jornal O Anápolis, ela era assídua leitora de Kardec e auxiliava Antonio Cupertino Xavier de Barros (Tonico Cupertino) no primeiro Centro Espirita do Estado de Goiás, na velha capital, ainda no século XIX e era médium de transposição.
Segundo relatos de Luiz Caiado no citado jornal, num determinado momento de sua vida em que estava em perigo na cidade de Alemão, hoje Palmeiras de Goiás, sua avó lá estivera em espírito e falou que saísse daquele lugar em que corria perigo. No atendimento à voz, saiu escondido pelo quintal e logo a casa foi alvo de furioso tiroteio de jagunços de políticos locais, que promoviam assassinatos à revelia. Também segundo esse relato, a mesma previu o assassinato de seu neto Paulo, que ocorreu na cidade de Pirenópolis.
Antonio José Caiado, nascido em 1826, governou o Estado de Goiás de 17 de julho de 1892 a 30 de julho de 1893, por um ano e 13 dias. Substituía, ele, o Marechal Braz Abrantes. Deu ênfase à mineração no Rio Vermelho, a regularização das atividades ligadas à agricultura e o trabalho no campo, a criação do imposto territorial, a criação do selo fixo, organização de uma nova estrutura judicial para o Estado, a criação da Justiça eleitoral, quando instalou o Superior Tribunal de Justiça.
No seu governo, recebeu a famosa Comissão Cruls, com o objetivo de explorar o Planalto para delimitar o futuro quadrilátero, onde, mais tarde, seria lançada a Pedra Fundamental da futura capital do País. Em agosto de 1892, o Presidente Antonio José Caiado recebeu a Comissão liderada pelo engenheiro Luiz Cruls na cidade de Formosa da Imperatriz (Formosa) e, depois, Planaltina de Goiás, que, na época, chamava-se Mestre d’Armas.
O Presidente Antonio José Caiado foi substituído no poder por José Inácio Xavier de Britto, que ficou até 1895. Além desse cargo, exerceu, ainda, o mandato de Deputado Provincial e foi Senador da República, cargo em que faleceu em 8 de agosto de 1899, aos 73 anos de idade.
A maioria dos descendentes de Antonio José Caiado também esteve por décadas diferentes, até hoje, na liderança política do Estado de Goiás, numa vocação política por atavismo.
Foram também filhos de Antonio José Caiado outros importantes goianos como Torquato Ramos Caiado, casado com Claudina de Azevedo, pais de Antonio Ramos Caiado, Leão Caiado e Brasil Caiado, grandes políticos; Josefa Caiado, que foi casada com Arlindo Gaudie Fleury, que deixou honrada descendência e Tereza Flamina Caiado, que foi casada com Enéas de Alencastro, também com nobres descendentes em Vila Boa de Goiás.
Desse ilustre ramo familiar floresceu Tereza Caiado. Nasceu de um berço muito ilustre, marcado por homens e mulheres de têmpera e grande entusiasmo pela vida. De sua mãe herdou o espírito solidário no cuidado sempre generoso com os seus e com os desvalidos da sorte e, com o pai, o grande amor pelo chão goiano e o gosto pelo ambiente campestre, pelos rios, serras e vales das cercanias da Cidade de Goiás, em poéticas divagações.
Tereza era um nome em evidência nos dois ramos ascendentes, daí o seu nome, na perpetuidade de uma tradição. Havia muitas Terezas, tanto no ramo Alencastro, quanto no ramo Caiado.
Na existência de Tereza Caiado havia a sombra benfazeja de seu único irmão, Mario de Alemcastro Caiado, notável homem, grande político e intelectual. Uma curiosidade é que seu sobrenome “Alencastro” fora grafado com “m”, “Alemcastro”, ao que o mesmo troçava ser ele, maior, superior “além de Castro”. Motivo de risos e troças no meio familiar.
A vida de Mário Caiado foi pautada por lutas e desafios. Nasceu ele em 16 de dezembro de 1876. Também residiu em Catalão quando seu pai trabalhava como Exator, no Porto Mão de Pau, no Rio Paranaíba. Conheceu de perto as dificuldades de nosso sertão sem fim.
Novamente em Goiás, estudou no Lyceu tradicional. Como não conseguia emprego, trabalhou honestamente cortando lenha nas matas da Fazenda Bugre, propriedade de seus pais, até que pudesse ter condições de, sozinho, manter-se no curso superior que tanto sonhava. E em 1898, aos 21 anos de idade, conseguiu emprego de Oficial da Diretoria do Interior e Justiça, sendo em 1901, chefe dessa sessão.
Nesse tempo, em 1905, casou-se com Maria Aleluia de Barros Caiado, filha de Virgílio José de Barros e Ana da Cunha Bastos de tradicionais famílias da Cidade de Goiás.
Com a instalação da Faculdade de Direito de Goiás em 1903, fez o concurso vestibular e ingressou no sonhado curso superior. Em 1906 estava formado e foi ele quem instalou a Comarca de Pouso Alto, hoje Piracanjuba. Nessa cidade, ficou até 1915.
De volta a Goiás foi delegado de polícia, professor de História no Lyceu e na Escola Normal Oficial e vice-diretor da Faculdade de Direito; da qual, foi um dos fundadores em 1921. Fundou ele o periódico Voz do povo, em oposição ao O Democrata, de seu parente Antonio Ramos Caiado.
Nascia sua vocação política e partidária, que abraçou com afinco. Adentrou na Aliança Liberal e foi polemista combativo contra o antigo regime, mesmo sendo constituído por sua própria família. Mas os seus familiares tinham também a sua mesma grandeza e honradez. Granjeou certamente para si alguns desafetos e contrariedades, mas não esmoreceu. Aquele momento histórico era de grande exaltação.
Foi ele quem dirigiu os primeiros momentos da política mudancista da Revolução de 1930, ao preparar o ambiente na Cidade de Goiás, para que a Junta Governativa pudesse ser empossada.
Quando recaiu sobre ele a escolha para liderar a Intervenção, deu provas de renúncia e desinteresse, ao preterir o cargo a favor de seu companheiro de lutas, o médico Pedro Ludovico Teixeira e ficou com o cargo de Secretário Geral do Estado.
Retornou à magistratura, foi depois escolhido como Deputado à Assembleia Nacional Constituinte de 1934; o que lhe garantiu uma vaga no Senado Federal em 1935. Com o Estado Novo em 1937, voltou ao cargo de Juiz Municipal de Piracanjuba, logo promovido a Desembargador pelo Tribunal de Justiça de Goiás.
Aposentado, passou a residir no Rio de Janeiro onde veio a falecer aos 71 anos de idade em 7 de janeiro de 1948, alguns meses antes de seu único cunhado, João Francisco de Oliveira Godoy.
Tereza e Mário Caiado eram irmãos muito unidos, solidários e companheiros. Não tendo Mário constituído família, ajudou os sobrinhos, com devotamento e amor paternal, principalmente os combativos Luiz, Albatênio e Claro Godoy.
Assim, na infância, Tereza Caiado dividia seu tempo entre a velha casa secular do Largo do Chafariz em Vila Boa e a Chácara Carreiro, nas costas do Morro do Cantagalo; de exuberante beleza. Essa chácara ficava do lado direito da estrada de Goiás para a antiga Leopoldina. Era distante apenas três quilômetros da cidade. Tinha quatro alqueires de chão e era completamente revestida de matas exuberantes, nas encostas dos morros.
A casa da chácara, rústica, de ladrilhos, paredes de terra socada, janelas pintadas de azul, seguia o estilo vilaboense. Ficava num alto, cercada de muitas árvores; era aprazível vivenda. Próximo corria o límpido Córrego Carreiro, de refrescantes águas.
Tinha também a Fazenda Bugre, distante uns 24 quilômetros de distância da Cidade de Goiás, caminho para o Arraial da Barra, hoje Buenolândia, velho e querido burgo dos tempos do ouro. Segundo a tradição, no Arraial da Barra vivera e morrera, ainda no século XVIII, o grande bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva, numa velha casa da qual só restam hoje ruínas e a decadência.
Os caminhos que levavam à Chácara do Carreiro eram belíssimos, marcados pelo sertão em flor e pelo Cerrado com seus diferentes tipos de animais e plantas. Por muitas vezes, em sua infância, Tereza Caiado, com sua montaria, passava, por essas paragens, completamente embevecida de nossas belezas tropicais e cerradeiras.
Havia, no caminho, o que os moradores de Goiás, velha capital, chamavam de “Mata do Zan-zam”, com fama de mal assombrada. Esse trecho era sempre passado mais rápido e com medo.
Antonio José Caiado, apelidado Nholucas, apesar do nome e da ilustre ascendência, sendo, inclusive, filho do Presidente do Estado, apreciava o trabalho no campo, na sua fazenda na plantação de milho, mandioca e criando o seu gado. Essa característica da família Caiado, de gostar do campo e das atividades rurais e agropecuárias perdura até a atualidade.
Até hoje esse local continua praticamente intocável, com a exuberância vegetal dos morros, num constante abraço e acolhimento.
Mesmo hoje, coberta pelo negro asfalto, a paisagem guarda muito dos tempos de outrora, nas cercanias da antiga cidade de Bartolomeu Bueno, a nos lembrar os versos do vate Félix de Bulhões: “De branco azul e fogo/e púrpura toucados/diziam contristados/tu só, sem mais ninguém”
Tereza Alencastro Caiado de Godoy fez seus primeiros estudos em Goiás com a mestra Pacífica Josefina de Castro (Mestra Inhola), destacada educadora goiana e aulas avulsas com o nobre e altivo professor Manuel Sebastião Caiado (1853-1910), seu parente, insigne mestre do vernáculo, seguidas de aulas com o professor Francisco Ferreira dos Santos Azevedo (1875-1942), com quem, também, aprendeu sobre literatura e poesia.
Teve aulas de música com a destacada professora Rita Bressane, vinda de São Paulo, com quem aprendeu as músicas que, no seu antigo piano, eram executadas com primorosa técnica.
Com toda essa gama de conhecimentos, era a moça Tereza Alencastro Caiado de Godoy refinada e erudita para o seu tempo e vivenciava os eventos sociais da velha capital goiana, notadamente no Palácio Conde dos Arcos, onde havia saraus e tertúlias ao gosto da época.
Luiz Antonio Caiado, pai de Tereza Caiado, era destacado nas atividades rurais em sua fazenda Bugre e, também, exercia funções ligadas à administração pública, no tocante à pecuária.
Nessa profissão, foi designado para atuar no antigo posto de arrecadação intitulado “Mão de pau”, junto ao caudaloso Rio Paranaíba, com sede na cidade de Catalão, fronteira da então Província de Goiás com a Província de Minas Gerais.
Em 1889, transferiram residência para Catalão, quando passaram a morar numa romântica praça, aos moldes daquela cidade agitada, movimentada e turbulenta, diferente da placidez e dos rígidos costumes de Vila Boa.
Quando chegou a Catalão, Tetê tinha 14 anos. Teve como amiga predileta a jovem Arminda Prates, de família de literatos, irmã dos poetas catalanos, Alceu Victor Rodrigues e Gastão de Deus Victor Rodrigues. Com Arminda passou a fazer seus primeiros versos e a passear na Igrejinha do Morro da Saudade, ponto pitoresco da bela cidade do sul de Goiás. Arminda foi biografada por Geraldo Coelho Vaz, Maria das Dores Campos e Célia Coutinho Seixo de Britto.
Arminda Prates (1871-1937) casou com o jurisconsulto Manuel Dias Prates dos Santos, que exerceu a magistratura também em Catalão. Não tendo filhos, acolheu e criou Julieta, uma filha natural de seu esposo e lhe deu esmerada educação. Do casamento dessa filha nasceu o notável intelectual goiano Wagner Estelitta Campos. Com a prematura morte de Julieta, Arminda Prates criou com amor e cuidado os seus cinco filhos órfãos. Faleceu de acidente automobilístico no Rio de Janeiro, com a idade de 66 anos, em 1937.
Arminda Prates foi uma intelectual de grande sensibilidade e uma autêntica dama da história catalana.
Nas tertúlias do velho sobrado onde funcionava, em Catalão, o Jornal Goyaz e Minas, importante veículo de comunicação daquela época, a juventude se reunia para os sadios encontros culturais e para os namoros ingênuos do tempo, regrados pela austeridade da família e dos rígidos preceitos éticos e morais daquela época.
Assim, Tereza Caiado conheceu nessas tertúlias o jovem juiz, vindo de Formosa, antiga Vila de Couros, natural de Pindamonhangaba, João Francisco de Oliveira Godoy.
Iniciaram um romântico namoro, ao gosto da época e faziam poemas com motes glosados, em que inflavam as almas enamoradas de doces sentimentos e de alegrias pueris, muito diferentes dos dias atuais, com certeza.
João Francisco de Oliveira Godoy nasceu em 19 de setembro de 1867, filho de Claro de Godoy Moreira e Amélia Augusta de Oliveira Godoy. Fez seus estudos iniciais em sua terra, Pindamonhangaba e passou depois ao Seminário Episcopal de São Paulo e Faculdade de Direito do Largo de São Francisco na capital paulista, onde se formou em 1888.
No ano seguinte era nomeado juiz da Comarca de Formosa da imperatriz na distante província de Goyaz. Passou depois às comarcas de Morrinhos, Catalão, Pirenópolis, Cidade de Goiás, Desembargador pelo Tribunal de Justiça de Goiás e seu presidente, chefe de polícia.
João Francisco de Oliveira Godoy também gostava de estudos genealógicos e era exímio pesquisador e colaborador com a Revista de Genealogia do Brasil, ao destacar os principais ramos familiares do Estado de Goiás. Seu filho Claro de Godoy lhe herdou esse pendor admirável.
Em São Paulo, de onde viera, deixou João Francisco de Oliveira Godoy os irmãos Martiniano de Godoy, Maria Godoy e Eugênia Godoy, esta última, casada com o músico Valentim de Barros. Em Pindamonhangaba residiam seus irmãos Luiz Gonzaga de Godoy e Elisa Augusta de Godoy Miné, casada com Manuel Monteiro César Miné.
O jovem juiz e a poetisa, enamorados, iniciaram uma história de amor na bela cidade de Ricardo Paranhos. Tereza Caiado também não se esquecia dos seus em Goiás. Em alegres missivas, em estilo epistolar, trocava correspondências com sua tia Antonia de Alencastro, apelidada de Tia Totó.
Era hábito muito comum as correspondências, notícias. Também os cartões postais cumpriam um papel importante na transmissão de notícias, assim como os telégrafos. Mas tudo era lento, difícil e vagaroso naquele Goiás do fim do século XIX.
Nesta missiva, datada de 19 de outubro de 1891, Tereza Caiado relatou o recebimento de cartas e presentes enviados a ela pela “Tia Totó” e agradeceu as manifestações de carinho. Fala do Professor Moraes, antigo mestre catalano, que havia se mudado de residência, mas ainda lecionava a ela.
Pediu, também, sementes de resedás por não haver espécies dessa flor em Catalão. Recomendou a todas as tias e finda a carta romanticamente, com o “adeus, aceitai as saudades”, ao estilo do tempo.
Amante da literatura, Tereza Caiado comprazia-se de conhecer, em Catalão, a casa histórica onde vivera o romancista Bernardo Guimarães, quando fora juiz de Direito na bela cidade. Era, também, amiga do poeta Ricardo Paranhos e dedicou a ele um soneto, quando da morte de sua filhinha.
Tereza Caiado, ainda jovem, com menos de vinte anos, estava integrada no meio social em que vivia, por amar a poesia e o sentido mágico das palavras.
Em 1892, Tereza Caiado retornou à velha Cidade de Goiás com a sua família. Seus pais reassumiam a casa do Largo do Chafariz e a Fazenda Bugre, assim como convolou núpcias com o seu namorado de Catalão, João Francisco de Oliveira Godoy, que já havia sido nomeado juiz Substituto da Capital do Estado. O casamento se deu em 28 de julho de 1892, na Cidade de Goiás.
O jovem casal passou a residir numa grande casa na Rua 15 de novembro, também chamada de Rua da Estrada, com quintal e muitas árvores, como o gosto da época.
Iniciada a vida de casada, Tereza Caiado dedicou-se ao lar, aos estudos, aos filhos, à música e às orações. Engravidou logo após o casamento, foi desejo de seu avô paterno, Antonio José Caiado, então Presidente do Estado, que seu primeiro bisneto nascesse no Palácio Conde dos Arcos.
Assim, Albatênio Caiado de Godoy nasceria em 14 de abril de 1893, sendo árabe a origem de seu nome, que escrevia-se Al-battani, que significa “nome de homem”. Inclusive os nomes dos filhos do casal fugiam à regra interiorana de nomes. Nasceram na sequência: Arquimedes, Claro, Luiz, Amélia, Maria, Clovis e Paulo.
Quando residia em Goiás, no seu casarão e seus pais na Fazenda Bugre, Tereza Caiado levava aos mesmos as notícias da cidade, como nesta carta de 1909, em que fala da “Revolução Branca”, que depôs o governo de Rocha Lima.
Tereza Caiado destaca, nesta carta, o medo generalizado que se derramou por todas as ruas da Cidade de Goiás, o temor por um confronto armado que poderia gerar muitas vítimas. Ela mesma destaca: “Tenho esperança que não haja nada”. Remete ainda que não seguiria para a Chácara Carreiro, porque os moradores das chácaras estavam vindo para a cidade. Falou da disciplina militar da oposição e a possibilidade de haver acordo, o que de fato houve.
Na mesma época, seu filho Claro, então com 13 anos, escreveu ao avô uma carta que comentava a Revolução Branca de 1909:
Nesta carta de um adolescente de 13 anos, aparece uma análise da situação dos sediciosos da Fazenda Quinta, prontos a tomar o poder. Fala de Theodoro Florambel reunido com seus camaradas na Fazenda Quinta; o ataque que Abel Coimbra sofreu de jagunços tocaiados quando ia tomar assento à Câmara; houve troca de tiros entre os jagunços e a guarda de Eugênio Jardim. Abel Coimbra, segundo a carta teve que vir a pé até o povoado do Bacalhau para sobreviver, onde conseguiu um cavalo do capitão David Hermetério do Nascimento.
Abel também se armou com seus homens de luta e os de Eugênio Jardim estavam a postos na Serra Dourada. Claro destaca, ainda, o assassinato do Alcides Barnabé e do reforço das tropas na cidade, a não chegada de Possidônio Xavier Rebello, da região do Sudoeste e o temor das pessoas, e a desconfiança de haver espiões no seio do povo.
Era o momento de mudança política, de troca de lideranças na República Velha, comum em todo o País. Em Goiás, a partir desse momento tem início a oligarquia caiadista que seguiria até 1930, com a Revolução, como bem descreveu e analisou Sebastião Fleury Curado, em seu livro Memórias históricas.
Na Fazenda Bugre, ligado ao seu trabalho, faleceu repentinamente Luiz Antonio Caiado em 16 de junho de 1916, poucas horas antes de morrer, escreveu esta carta:
Carta afetuosa vem carregada de lembranças e saudades de todos, principalmente de sua Maria Alencastro. Destaca sobre os cargueiros e a rotina do trabalho.
Nota-se que a letra já estava trêmula e com dificuldade de articulação das ideias.
Com o crescimento, estudos, atividades políticas, casamentos, os filhos deixaram o velho lar da Rua da Estrada. Todos seguiram seus caminhos e ficou apenas temporariamente Maria, que renunciara a qualquer compromisso, para cumprir sua missão de caridade, na criação de crianças abandonadas.
Assim, o casal pode realizar viagens ao gosto de ambos, como no Rio de Janeiro na década de 1940 e em São Paulo, em visita às irmãs de João Francisco de Oliveira Godoy. Em todas elas, a alegria do encontro, a confraternização e a possibilidade de novos contatos e pesquisas genealógicas, e os versos de Tereza.
Mas, era no recinto do lar onde frutificavam afetos. Tereza Caiado se multiplica em versos pelo amor que tinha a todos os seus.
No ano de 1942, tempo do Batismo Cultural de Goiânia, o casal João Francisco de Oliveira Godoy e Tereza Alencastro Caiado de Godoy comemorou com todos os familiares as suas bodas de ouro.
O ano de 1948 foi deveras triste na existência de Tereza Caiado. Perdeu o esposo em 03 de agosto, depois de 56 anos de feliz união conjugal e o único irmão, Mario Caiado, amigo e companheiro de todas as horas, falecido no mês de janeiro desse ano.
Depois de viúva, acompanha a filha solteira, professora Maria Caiado de Godoy de mudança para Campinas, bairro de Goiânia. Ali faleceu na madrugada do dia 22 de junho de 1959, há 65 anos passados, aos 83 anos de idade e deixou os mais belos exemplos de amor, solidariedade e gosto cultural, que legou aos seus dignos descendentes.
Colaboradora da imprensa goiana, desde os anos 1920, na antiga capital de Goiás, declamadora dos saraus do Palácio Conde dos Arcos, autora do livro Rimas, publicado por Bento Fleury e Terezy Godoy, destaca-se na história literária de Goiás como uma pioneira da luta feminina no campo da literatura.
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