A verdadeira história do naturalista que inspirou o personagem Indiana Jones
Indiana Jones, todos sabem, é Harrison Ford. É possível outro ator para interpretar o personagem? É, claro. Mas, por muito tempo, quem sabe para sempre, ao pensarmos em Indiana Jones virá à mente a figura sisuda, circunspecta e destemida de Harrison Ford.
Mas quem foi o Indiana Jones da vida real? Seria o explorador britânico David Livingstone (1813-1873)? Ao encontrá-lo, na África, o jornalista Henry Morton Stanley (1841-1904) teria dito a famosa frase: “Dr. Livingstone, eu presumo?” (A história está contada no excelente “No Coração da África — As Aventuras Épicas de Livingstone & Stanley”, de Martin Dugard. Publicado no Brasil pela Editora Record, com tradução de Luiz Carlos do Nascimento Silva.)
Reportagem do jornal espanhol “Abc”, publicada sob o título de “Roy Chapman Andrews, el hombre que fue Indiana Jones”, revela quem foi o aventureiro que, na pele de Harrison Ford, encantou plateias do mundo inteiro.
De acordo com o “Abc”, Roy Chapman (1884-1960), “um aventureiro, explorador e visionário”, se tornou uma “lenda na América dos anos 1930”. Chegou a sair na capa da revista “Time”.
“Abc” sublinha que, dada a fama do naturalista e zoólogo Roy Chapman, “não é estranho que George Lucas e Steven Spielberg tenham se inspirado nele para criar o personagem Indiana Jones”.
Nascido numa pequena cidade do Estado de Wisconsin, em 1884, Roy Chapman integrava uma família de classe média. Desde menino, explorava os campos das redondezas de sua casa e aprendeu a “colecionar” animais.
O garoto Roy Chapman era um atirador eficiente. Usava uma escopeta. Já na adolescência começou a estudar taxidermia. Nesse período, seu interesse era pelos animais, e não por história e arqueologia.
Conhecido pela valentia, Roy Chapman era temerário e não desistia de suas aventuras se esbarrasse em alguma dificuldade.
A reportagem do “Abc” ressalva que, apesar de ser corajoso e aventureiro, tinha o hábito de “magnificar” seus sucessos e aumentar as histórias de perigo de suas expedições.
Os relatos de Roy Chapman incluíam encontros com tubarões, serpentes gigantescas e feras selvagens. “Não faltavam tampouco os incidentes com bandidos armados que tentavam saquear suas descobertas” (tesouros arqueológicos, mapas etc.).
Aos 21 anos, quando Roy Chapman navegava no Rio Rock, sua canoa virou e o amigo Monte White morreu afogado. Por isso mudou-se para Nova York.
Em Nova York, conseguiu trabalho no American Museum of Natural History, como ajudante de taxidermia (fala-se também que foi faxineiro). Matriculou-se em Zoologia, na Universidade Columbia, e começou a estudar os espécimes expostos no museu.
Japão despertou interesse pela paleontologia
Irrequieto, Roy Chapman foi para as Filipinas, em 1909, aos 25 anos, para estudar as baleias. Da viagem, aumentou a coleção de anfíbios e repteis.
Viajante incansável, esteve na China e no Japão. Encantado com a cultura nipônica, morou vários meses no país de Yukio Mishima. Procurou aprender a língua e conhecer bem as tradições locais.
O interesse por fósseis e pelo estudo da paleontologia surgiu depois da viagem ao Japão.
Em 1914, ao lado de sua mulher, Roy Chapman organizou uma expedição para a China. Ele contou com o apoio de Henry Osborn, professor de Columbia e presidente do Museum of Natural History. Seu mestre conseguiu os patrocínios.
A expedição liderada por Roy Chapman planejava provar que a origem do homo sapiens era no continente asiático. Uma hipótese que ninguém conseguiu provar.
Como parecia ter formiga nos pés, Roy Chapman mal chegava de uma viagem e já estava com outra engatilhada. Em seguida, foi para a Mongólia. Ele partiu de Pequim, com uma frota de automóveis, tendo obtido financiamento dos Rockefeller e dos Morgan (do banco).
“As expedições sofreram numerosos contratempos, como temperaturas polares e ataques de bandidos. [Roy Chapman] Teve de interromper seu périplo ao ser acusado de espionagem pelas autoridades”, relata o “Abc”.
Nas viagens à Mongólia e à China, Roy Chapman não encontrou o elo perdido que demonstraria que o homem havia surgido na Ásia. Não percebeu que a origem era a África.
Em compensação, Roy Chapman fez o primeiro registro fóssil de um dinossauro, “que incluíam ovos de um gigante desaparecido há milhões de anos. Também descobriu restos ósseos de mastodontes”.
Homem difícil, pois não apreciava ficar em casa — sua casa era o mundo —, Roy Chapman divorciou-se e casou-se com outra mulher. Ele tentou criar novas expedições, com o objetivo de explorar o deserto de Gobi (onde ele já havia pesquisado). Entretanto, não lhe deram permissão e ele não conseguiu financiamento para bancá-las.
Em 1934, aos 50 anos, Roy Chapman foi promovido a diretor do Museu de História Natural. Dadas as responsabilidades administrativas, a vida de aventuras e viagens cessou.
Mesmo com vontade de viajar, Roy Chapman optou por estudar e escrever. “Eu nasci para ser explorador. Nunca pensei em outra alternativa. É o que eu gosto e o que me traz felicidade”, relatou.
Graças ao seu espírito aventureiro, tentou se alistar como soldado para lutar na Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Porém, o governo americano, declarando que era velho, rejeitou seu pleito. Havia também as sequelas físicas, consequências de suas múltiplas aventuras em locais ermos e de difícil trânsito.
Ao aposentar-se do Museu de História Natural, Roy Chapman mudou-se para a cidade de Carmel (da qual, mais tarde, Clint Eastwood foi prefeito), na Califórnia.
Sem viagens e sem o trabalho no museu, Roy Chapman escreveu suas memórias, que, de acordo com o “Abc”, são “apaixonantes”.
Roy Chapman morreu em março de 1960, aos 76 anos, em decorrência de um infarto. “Seus restos mortais foram levados para Beloit, lugar de seu nascimento”, informa o “Abc”.
Graças a Roy Chapman, nós temos a bela e aventureira história de Indiana Jones. Por sinal, o mais provável é que o personagem tenha sido criado a partir do americano, mas talvez seja um compósito de vários viajantes, caçadores de tesouros (arqueológicos ou não). Frise-se que a ficção não tem a obrigação de ser inteiramente fiel à realidade. Mas o cientista certamente ficaria contente com os filmes ou pelo menos com um ou dois deles.
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